23 janeiro 2014

Jovens Diplomados em Portugal: emprego, desemprego e trabalho qualificado (parte 1)

Portugal fez um esforço enorme de qualificação da sua população nas últimas décadas. Hoje continuamos no geral a ter uma sociedade pouco qualificada e na cauda da Europa mas que fez enormes progressos. Temos mais jovens qualificados mas que ainda são muito menos dos que o universo de jovens em idade de estudar no Ensino Superior. Mas para além da questão da democratização do acesso e das expectativas sobre ao Ensino Superior, nestes tempos de transformação acelerada vale a pena pensar o que está a acontecer aos jovens diplomados em Portugal. Os dados oficiais escondem uma parte considerável da realidade. Os dados do antigo GPEARI e da actual DGEEC que as universidades divulgam, apenas contabilizam no "desemprego dos diplomados" os jovens que se encontram inscritos nos centros de emprego. Como se percebe, estes são muito menos que o universo geral de diplomados realmente em situação de desemprego. E de facto, das catorze universidades públicas portuguesas apenas sete delas aplicam inquéritos próprios sobre o percurso dos seus diplomados. Vejamos desses inquéritos, a título de exemplo, o que tem acontecido na Universidade Nova de Lisboa e na Universidade de Évora ao nível do emprego, desemprego e adequação do trabalho à formação nos últimos anos.

Fig1: Situação perante a atividade dos licenciados da UNL
Fonte: OBIPNOVA



Fig 2: Situação face ao emprego nos licenciados na Universidade de Évora
Fonte: Observatório do Emprego, UÉv




Tomando o caso da UNL como exemplo, temos assistido, quer nos diplomados licenciados quer nos mestres, a um agravamento progressivo das condições de emprego e de desemprego. É de ressalvar que no período aqui comparado se introduziu em Portugal o processo de Bolonha, mas é inegável constatar que quer nos licenciados, quer nos mestres, as taxas de desemprego sobem ao longo dos anos de forma ininterrupta. Contudo, é de salutar também que quando comparada com a taxa de desemprego geral dos jovens portugueses que em Agosto de 2013 se situava em 36,8 %, a formação superior ainda coloca os jovens menos vulneráveis ao risco do desemprego. No caso de Évora os dados comparados entre os diplomados com licenciatura de 2009 e de 2012 mostram que as situações de contratação precária, vínculo de definitivo e trabalhadores por conta própria diminuem, ao passo que as situações de desemprego aumentam e proliferam outras condições de trabalho como o trabalho sem contrato, as avenças e o trabalho informal. Ainda assim, é de salutar que um quarto dos diplomados de 2012 declaram estar sujeitos a contratos precários, enquanto em 2009 correspondia a um terço dos diplomados.

Fig3: Adequação entre emprego e nível de ensino nos diplomados pela UNL
Fonte: OBIPNOVA


Fig4: Adequação entre emprego e área de formação nos diplomados da Universidade de Évora
Fonte: Observatório do Emprego UÉv

Tão importante como saber o desemprego e o emprego é, de facto, saber se o emprego que os recém diplomados têm corresponde à sua área  e nível de formação Superior. Em ambos os casos, salvo uma variação na UNL em 2009, se constata um agravamento da percentagem de diplomados que não cumprem funções adequadas à sua área e nível de formação. Há portanto uma diminuição progressiva do emprego qualificado e das condições de trabalho dos jovens diplomados. 

No plano do desemprego e do emprego qualificado assistamos a uma degradação progressiva da situação dos recém diplomados em Portugal. Isto diz muito sobre um o momento histórico que vivemos. É que podemos estar a assistir à brutal estupidez de ter hoje uma política económica e de ensino que destrói todo o esforço de qualificação da sociedade portuguesa das últimas décadas. Isso parece estar a acontecer nestes indicadores e no próximo texto veremos como se também de confirma para o caso dos vínculos contratuais e do valor dos salários. 

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