05 fevereiro 2014

Aborto ou a vingança da direita conservadora

O Partido Popular, que governa o Estado Espanhol com maioria, aproveita para, além da austeridade, fazer um conjunto de reformas atentatórias dos direitos e liberdades civis. Querem empobrecer o país, não só no bolso, mas também na cultura e opções de vida.

Uma das últimas reformas é sobre a lei do aborto por mãos do ministro Gallardón. Quando lhe perguntaram porquê disse "Era un compromiso del programa electoral". Deve ser o único que cumprem. E quando olha para os protestos de milhares de pessoas nas ruas e em muitos países contra esta reforma diz "Tenéis mi compromiso personal que no habrá ni un grito ni ningún insulto que a este ministro le vaya a hacer abdicar del compromiso de cumplir el programa de regular los derechos de las mujeres y del concebido".

É a vingança de quem chegou ao poder com base na narrativa do medo e inevitabilidade da dívida, do défice, da troika, da austeridade, e nunca gostou da "transição democrática" que se seguiu à ditadura, mesmo sendo esta tão débil. É a vingança contra a emancipação das mulheres e o seu direito a decidir, não ficando reféns de pais, maridos, empregadores, Estado ou uma sociedade hipócrita. É vingança mas também utilidade. Não casasse bem o conservadorismo moralista com os interesses de uma classe dominante cada vez mais rentista, ou que nunca o deixou de ser e tem agora as rédeas livres. O que querem é cidadãos e cidadãs cada vez mais obedientes e submissas, caladas e ignorantes, pobres e conformadas, subjugadas até no corpo.

Como é possível que um programa que é violado constantemente se possa impor sobre a vida das mulheres e o seu direito ao corpo? Ou um acto de voto que mais não é que um ato individual se possa impôr a direitos individuais que deveriam ser invioláveis? Que milhares e milhares nas ruas não signifiquem nada? Quando a exceção se torna regra é a democracia que se fragiliza. Esta lei não pode passar. Seria o primeiro recuo de uma lei sobre direito das mulheres a decidir sobre a sua maternidade e saúde, que tantos anos e lutas levaram a conseguir. Seria um recuo civilizacional.

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