10 fevereiro 2014

O referendo na Suíça é um sinal. É um sinal de quê?


O resultado do referendo para a limitação da imigração na Suíça alertou a Europa para a ameaça xenófoba. A extrema-direita rejubilou e a esquerda assustou-se. Ora, só parece estranho que a reação seja tão tardia, tão desorganizada e tão frágil. Nos Estados Unidos como na Europa, têm sido frequentemente os mais moderados quem tem tomado a dianteira nas ameaças aos imigrantes, por puro cálculo eleitoral. O sinal suíço é somente o primeiro sintoma da profundíssima doença europeia.
Uma ameaça contra todos

Como se percebeu, o referendo para o controlo da imigração na Suíça não é dirigido predominantemente contra os extra-europeus, que aliás já não entravam no país: é dirigido contra os europeus e pretende alterar os tratados com a UE. Não é portanto só um ato de lamentável xenofobia, estende esse ódio a um fechamento nacionalista que ameaça todos sem exceção. Assim, é uma lição sobre o que são as políticas anti-imigração: o que começa contra uma cor de pele ou contra uma origem torna-se sempre a perseguição contra todos.

Ora, a Suíça tem sido um país com características especiais. O gráfico mostra porquê, ao comparar a percentagem de imigrantes na Suíça e em Portugal ao longo dos últimos dezassete anos.



A Suíça (que tem uma população de oito milhões, menos do que Portugal), teve uma proporção de imigrantes sempre maior, cinco vezes mais ao longo de uma década e dez vezes mais agora (o número de imigrantes legais em Portugal tem diminuído muito). E foi assim porque a Suíça precisou que fosse assim. O crescimento da prosperidade na Suíça é também o resultado do trabalho deste milhão e meio de imigrantes. É simples: sem eles não havia Suíça e uma taxa de desemprego que se fica pelos 3%.

Ao ameaçar agora os imigrantes, a Suíça cria um fantasma. A restrição à imigração é um sinistro jogo político sem qualquer alternativa económica.

Entretanto, para os portugueses na Suíça (como para todos os outros), esta ameaça é bem real. São cerca de duzentos e cinquenta mil (mais ou menos o número de imigrantes legais em Portugal, considerando todas as nacionalidades), mas são muito menos do que os emigrantes portugueses no Brasil, na Venezuela, em França ou na África do Sul. Alguns têm dupla nacionalidade, a maior parte não tem. Não sabem agora o que se vai passar, mas sabem que os imigrantes começam a ser perseguidos.

Tão radicais que são os moderados 

O problema é que o problema não é só suíço. Em França, o ministro do interior, Manuel Valls, tem-se destacado por declarações racistas em particular contra os ciganos. “Não há outra solução” senão o desmantelamento dos acampamentos e a expulsão, foi a sua marca. É certo que outro ministro, Montebourg, o criticou abertamente, mas a orientação do Governo Hollande tem sido a expulsão de imigrantes para mostrar uma política musculada e conseguir assim benefícios eleitorais.

Nos Estados Unidos, Obama foi eleito com a promessa de uma nova lei de imigração, para legalizar parte dos 11 milhões de clandestinos. Como se vê pelo gráfico (publicado esta semana no Economist), tem aumentado o ritmo das expulsões de imigrantes: durante o seu mandato, já expulsou dois milhões, um número nunca registado no país.



Com Obama, os EUA passaram a expulsar mais imigrantes do que os que recebem. Os governantes talvez saibam que o país foi feito por imigrantes. Como a Suíça. Mas que importa, se o discurso da desconfiança e do ódio é eleitoralmente útil?

3 comentários:

  1. mais um retrocesso. esquecem que o disco podia ser diferente. do quanto os imigrantes são necessários para cultura, economia, segurança social, etc. ou bastava reconhecer direitos de trabalhadores ou acordar para os direitos humanos. ou ainda, pelo menos pensar na gangorra das migrações.
    http://takedireto.wordpress.com/2014/02/10/direitos-migrantes-referendos-variacoes-no-tempo-e-no-espaco/

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  2. Chico - já te disse para acabares com o taping . no economist pergunto - não sabia que ias tomar essa parte na questão do género
    o que eu acho é que a história está sempre parada - do tipo de um eterno retorno, senão o Centro Democrático Social não tinha razão de existir ou Portugal era habitado por gente desse jaez, também Pedro(?) Passos Coelho nunca teria sido proclamado imperador das águas de São Bernardo precisamos de uma fénix - ser europeus e ter consciência, disso - digo eu, por ela; espero que não tenhas o poder para m travar as mensagens. olha a NSA

    http://view.e.1000bulbs.com/?j=fe9515767564037571&m=fe981570716d007e77&ls=fe211377716602787c1072&l=fef91170726703&s=fe2d157075620574711376&jb=ff3311707167&ju=fe64177077600c7f751c&r=0

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  3. Sou português e emigrante com inclinações políticas alinhadas à esquerda. Eu concordo com parte das razões. Aqui não se toleram mandriões. A receber subsídio de desemprego à um ano sem arranjar novo emprego, só para os preguiçosos. Pois aqui não faltam oportunidades. Assim que foi aprovado o referendo, nos canais próprios, reparei que houve um aumento enorme de portuguese a quererem um emprego. Porque a verdade é que até aqui andaram a aproveitar-se dos 18 meses de subsídio a 80% do ordenado anterior.

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