18 março 2014

O impacto social da crise segundo a OCDE

O FMI publicou um estudo sumário de acordo com o qual, em Portugal, os efeitos da crise teriam sido mais sentidos pelos mais ricos do que pelos mais pobres. (Público). Desde logo, uma advertência: para quem já tinha muito pouco, qualquer corte adicional significa imenso. Em Portugal, o limiar de pobreza situa-se nos 424 euros.
No entanto, o retrato traçado pela OCDE (aqui), além de exaustivo, é bastante diferente. Com a crise, o número de agregados familiares sem qualquer rendimento aumentou mais de 20% no nosso país.
O mais preocupante, contudo, é o facto do governo português ter reagido a contraciclo. Por outras palavras, ao invés de países como a Estónia, a Finlândia, a Irlanda ou a Espanha, em que, perante o agudizar da crise, se assiste a um aumento substancial das transferências sociais, em Portugal o acréscimo é muito reduzido (cerca de 4%) e significa na verdade, perante, por exemplo, o aumento rápido e intenso do desemprego, que as regras de atribuição dos subsídios foram alteradas para chegar a menos pessoas, por menos tempo e com menor prestação, atingindo em cheio os grupos potencialmente mais afetados pela crise (o mesmo acontece com o rendimento social de inserção – queda de 30% segundo o relatório - e com o complemento solidário para idosos).
Por outras palavras, para que as repercussões com a crise não fossem tão evidentes, o Estado teria de aumentar substancialmente o grau de proteção social dos mais vulneráveis. Com tão tímido acréscimo no total das despesas (os tais 4%), gera-se uma espiral de exclusão e desigualdade que, segundo a OCDE, será muito difícil de reverter
A satisfação com a vida decresce e Portugal é o país europeu da OCDE (tirando a Federação Russa) com maior desigualdade social.

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