18 março 2014

O trunfo escondido de Passos Coelho



Escreve o Público que a reunião entre Passos Coelho e Seguro resultou num falhanço do primeiro. Depois de 3 horas de reunião, Passos segue para Berlim como Azazel para o deserto, pronto ao sacrifício e desprovido de qualquer trunfo salvador. O caso dá que pensar. Por que razão Passos Coelho, que em dezembro afirmava dispensar qualquer ajuda do PS para a negociação de um programa cautelar, que nunca havia convidado Seguro antes de uma entrega do Documento de Estratégia Orçamental, e que sabia que este afirmaria, uma vez mais, uma discordância com o governo, ofereceu ao líder do PS a abertura dos telejornais?

Parte da explicação estará no tempo de envio da carta - quatro dias depois de ser publicado o manifesto dos 70. O campo aberto pela narrativa da recuperação económica e pela falsa escolha da saída limpa ou o cautelar, estreitou-se com uma rapidez assustadora. A introdução do tema da dívida no centro da política em Portugal provocou mais que um calafrio nervoso no estômago da direita, retirou-lhe o espaço de que dispunha para conduzir o processo político. Perante as missivas prefaciais de Cavaco e a desestabilização do seu próprio campo político, resta a Passos encostar o PS a um compromisso naquilo que é essencial, a inscrição da austeridade num pacto de regime que é o Tratado Orçamental e a garantia do pagamento da dívida.

Da declaração de Seguro, fica a afirmação sobre o Tratado e um esclarecimento sobre a dívida - "Sempre defendi a reestruturação". A direcção do PS responde ao próprio eco, a reestruturação só passa por uma mutualização quando e se os órgãos europeus quiserem, que será nunca. A redução do montante da dívida, leia-se, o não pagamento de parte da dívida, está fora dos planos de Seguro, daí o incómodo com o Manifesto e com os seus camaradas que o subscrevem .

Quanto a Passos, pode bem ter de aguentar o embate de um programa cautelar, dando a Seguro a oportunidade de clamar pelo falhanço da governação, mas antes isso que ter de tratar do tema essencial: a dívida e o seu fardo incontornável. As declarações de Merkel dizem-nos que a oferta pode bem ter sido superior ao sacrifício.
  

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