10 abril 2014

"Desigualdades no sistema educativo", Ana Matias Diogo e Fernando Diogo (orgs.)



O sistema educativo é provavelmente um dos assuntos mais discutidos quando se abordam as evoluções que a sociedade portuguesa viveu nestes quarenta anos de democracia. E não é para menos. Perante um atraso educativo que era parte do projeto de regime e perante indicadores educativos miseráveis, a sociedade portuguesa em quarenta anos de democracia conseguiu construir um sistema educativo a uma velocidade imensa. Haverá poucos exemplos de como em quarenta anos se inverteram de forma tão decisiva os indicadores educativos e de como, em tão pouco tempo, se ergueu uma escola pública com ambições emancipatórias e democratizadoras. Mas se esse avanço foi imenso, a escola pública e a universidade em Portugal continuaram sempre a ser um palco de desigualdades educativas e de desigualdades sociais, económicas e cultuais mais amplas. É disso que este livro trata: das desigualdades que ainda se fazem sentir no nosso sistema educativo.
Persistem índices de insucesso e de abandono escolar bastante elevados, especialmente em grupos, classes e regiões mais vulneráveis às desigualdades sociais. E isso traduz-se necessariamente em trajetórias educativas (e mais tarde sociais e profissionais) altamente desiguais. Este livro trata desse assunto com bastante rigor. David Justino discute a relação entre as origens, as expetativas, as oportunidades e o desempenho dos jovens na escola. Pedro Abrantes traça os percursos da escolarização tardia da sociedade portuguesa, ao passo que João Teixeira Lopes, inflector desta casa, identifica as tendências e as contratendências nos percursos dos estudantes universitários em Portugal. Pedro Silva e a Ana Matias Diogo discutem, em capítulos diferentes, a relação entre a escolarização, as origens familiares e as desigualdades, ao passo que Suzana Nunes Caldeira e Margarida Damião Serpa abordam o problema da gestão das aulas em escolas com diferentes composições sociais.

Assim, este livro dá uma abordagem e uma atualização empírica às reflexões que se têm desenvolvido sobre as desigualdades na escola. E dá-nos uma arma cognitiva fundamental para percebermos, como referi na minha estreia no Inflexão, que há um projeto ideológico claro em Portugal de mitigar os avanços imensos que se fez no terreno da democratização da escola e de reforçar a herança de uma escola contaminada pelas desigualdades que persistem na sociedade portuguesa.
É por isso um livro importante. Para sabermos das escolas que temos. Para sabermos como lutar por elas. 

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