22 junho 2014

O prisioneiro 4859, visto pelos Sabaton



Em 1940, Witold Pilecki é capturado pelos nazis em Cracóvia e enviado para o campo de concentração de Auschwitz. Os nazis não faziam a menor ideia, nem tinham como fazer, que Pilecki não tinha sido apanhado ao acaso mas antes se deixou capturar para poder infiltrar-se no campo de concentração. Usando uma identidade falsa, o soldado da resistência e criador do Exército Secreto Polaco pos em risco a sua vida para conseguir descobrir o que se passava em Auschwitz e organizar uma resistência a partir de dentro.


Dentro do campo de concentração, Pilecki criou a União de Organizações Militares, agrupando os vários grupos de resistência, que ia passando informações para o exterior sobre o genocídio que decorria. Depois de Pilecki conseguir escapar de Auschwitz, em 1943, compilou as informações obtidas sobre as mortes ocorridas no campo e entregou um relatório ao governo polaco no exílio, que por sua vez o fez chegar ao governo britânico. Apesar dos pedidos de ajuda, o governo britânico recusou intervir no sentido de apoiar o Exército Doméstico, o grupo que federou os vários grupos de resistência polacos, para libertar os presos de Auschwitz, por duvidar da veracidade do "Relatório Pilecki".

Por surpreendente que possa parecer, Pilecki não era um combatente anti-fascista, bem pelo contrário. O exército secreto que criou apoiou militarmente a Confederação da Nação, um grupo fascista e anti-semita. Depois da sua fuga de Auschwitz, Pilecki juntou-se a grupos anti-comunistas que lutavam contra a invasão soviética. Tendo sobrevivido à luta contra a invasão nazi, Pilecki acabou por ser executado pela sua luta contra a invasão soviética, em 1948.

A história tem destas incoerências. De um lado, um fascista polaco denuncia os crimes nazis, do outro um anti-fascista britânico olha para o lado e assobia.

O "Prisioneiro 4859" foi homenageado no último álbum dos Sabaton, uma banda que tem conquistado uma cada vez maior legião de fãs com o seu power metal inspirado em episódios da história militar europeia. Com "Heroes", os Sabaton quiseram lembrar heróis de guerra, definidos pela banda como pessoas que arriscaram a sua vida para o bem de outras pessoas. Pessoas como Franz Stigler, um piloto alemão que desrespeitou a ordem para matar um piloto britânico e acompanhou-o à sua base ou Audie Murphy, um soldado americano que enfrentou sozinho uma companhia alemã. Pessoas como os três membros da Força Expedicionária Brasileira que lutaram contra o exército alemão até à morte depois de se separarem do seu grupo ou como os soldados alemães que criaram um corredor ao longo do Rio Elba para proteger refugiados e soldados que procuravam refúgio junto do exército americano depois da sua derrota na guerra contra os soviéticos.

Numa guerra não há bons e maus, há sobretudo gente que é atirada para um confronto mortal pelos poderosos que movem exércitos como se tudo não passasse de um jogo. Com "Heroes", os Sabaton não só produziram um grande álbum de metal como desafiam a noção de "herói" popularizada na história escrita pelos vencedores das guerras.

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