Há notícias que nos chegam e se perdem na
espuma dos dias e na nebulosa informativa que nos atinge diariamente nas redes
sociais. Mas há notícias que importa não esquecer e sobretudo que importa
inscrever nos debates do nosso tempo. Esta semana tivemos uma dessas notícias:
Edward Snowden divulgou mais um documento secreto onde se lê que a NSA estava
autorizada a vigiar 193 países do mundo. De fora ficaram apenas o Reino Unido,
o Canadá, a Austrália e a Nova Zelândia que têm um acordo de
não-espionagem com os EUA, o Five Eyes.
O documento divulgado mostra que os EUA
podiam intercetar comunicações e vigiar cidadãos e governos de todos os países
do mundo. A justificação é simples: todos são potencialmente suspeitos de pôr
em causa a segurança nacional americana e por isso todos devem ser permanentemente
vigiados.
O que surpreende neste documento não é
apenas a arbitrariedade dos sistemas de vigilância e espionagem. A esse
respeito a história de Guantanamo mostra bem como no “mundo desenvolvido” pode
haver um sistema de justiça medieval, sem que isso cause especiais remorsos à
comunidade internacional. O que parece ser novo é que há, de facto, uma
cobertura legal para a arbitrariedade. A autorização de vigilância para todo o
mundo foi dada pelo Foreign Intelligence Surveillance Court e, nestes dias, a Privacyand Civil Liberties Oversight Board (PCLOB) divulgou um relatório dizendo que a
vigilância americana é “razoável”, é “legal e eficaz para a segurança interna”
e está enquadrada constitucionalmente. Ao mesmo tempo, antigos funcionários governamentais
diziam ao Washington Post que o sistema é adequado uma vez que os EUA precisam
de garantir a evacuação dos seus cidadãos em caso de catástrofes humanitárias.
Já vi, apesar de tudo, argumentos mais consistentes.
Podia-se esperar que a ONU tivesse um
papel neste processo. Será razoável para os governos do mundo que haja uma
superpotência que atribui a si mesma o direito de vigilância e espionagem sobre
todas as partes do mundo? Razoável não é e isso viu-se na deliberação de Dezembro de 2013 da ONU. A proposta de Merkel e Dilma sobre os direitos de
privacidade na era digital foi aprovada por unanimidade. Mas será que isso nos
salva de um Big Brother permanente sobre as vidas dos povos e dos Estados? É
claro que não: a deliberação nem sequer era vinculativa.
Nesse caso, recomendo que em todos os posts, comentários, emails, mensagens nos facebooks, etc., (e completamente a despropósito), toda a gente introduza palavras como terrorista, bombas, antrax, sunitas, xiitas, jihadistas, ETA, al-qaeda, etc.
ResponderEliminarAo fim de duas semanas a NSA ficará completamente entupida…