22 dezembro 2014

A primeira derrota de um partido que ainda não o é



Pelos menos três reuniões juntaram a direção do LIVRE e do PS antes da ida de António Costa ao congresso do partido de Rui Tavares. Não haverá mais nenhuma. A esquerda que se propõe orbitar em torno do PS, integrando para tal um futuro governo de Costa, ficou apertada entre a possibilidade de criar (mais um) partido, ou submeter-se a quem se tinha já adiantado: a "Convenção da candidatura cidadã" irá decidir em janeiro que o LIVRE altere o seu nome no Tribunal Constitucional de forma a albergar o novo projeto.

A breve vida do LIVRE antecipa o longo calvário no movimento de translação do novo partido. Com o Bloco e o PCP firmes na recusa em aceitar a aplicação do Tratado Orçamental, a proposta de um novo partido apenas ocupa espaço na tentativa de influência do próximo governo PS. Costa registou esse recado e procurou acarinhá-lo nos últimos meses.

Acontece que na primeira movimentação pública do novo partido, a defesa da não privatização da TAP, o PS fez questão de mostrar rapidamente quem manda. A decisão sobre os destinos da TAP foi muito provavelmente, desde a chegada de Costa, a oportunidade mais evidente para uma demarcação do PS com o passado, ou seja, de afastamento do pacto social criado em torno do memorando de entendimento com a troika. Costa escolheu fazer precisamente o contrário, invocando a verdade histórica de quem conduziu os destinos do país.

Neste cenário, não é difícil imaginar o que decidirá o Conselho de Ministros de novembro de 2015, presidido por António Costa: honrar os compromissos do PS, mesmo que para tal seja necessário invocar a justeza das privatizações da REN e da EDP como exemplo na justificação da alienação parcial da TAP, tal como fez Silva Pereira.

Há quem diga no novo partido que para inverter essa inclinação liberal do PS é preciso primeiro ter votos. Até pode ser que sim, que seja possível negociar percentagens do serviço público a alienar, mas a primeira derrota de um partido que ainda não o é fica nesta história para ser contada, no futuro quem sabe, como um conto do natal passado.     

1 comentário:

  1. Para quem se encontra numa posição de "outsider" já sabes bastante sobre a candidatura cidadã Tempo de Avançar! Mas não seria mais interessante aprofundasses um pouco as razões que têm levado largas centenas de aderentes a abandonar o teu projecto político nos últimos anos? Será "sangria" ou "debandada" a palavra mais adequada para definir este fenómeno? E os responsáveis pelo cataclismo que se abateu no BE? Há um professor de economia muito narcisista que está a tentar sair de mansinho do teu partido e que pode ajudar-te a esclarecer muitas questões. Fala com ele.
    Bom trabalho!

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