19 dezembro 2014

TAP: voar em segurança ou reduzir os custos?



No processo de assalto à TAP, Pires de Lima tem montado uma irresponsável campanha contra os trabalhadores, principalmente contra os pilotos. É preciso lembrar que logo após falhar a entrega da TAP ao obscuro Germán Efromovich, o Governo de pronto pressionou os pilotos da companhia a aceitar um corte nos salários, sob o inevitável argumento da redução de custos.

Essa pressão não é nova, desde 2010 o Diário Económico desfia editoriais e colunas de opinião contra os salários luxuosos na TAP. O ataque sobre os pilotos comerciais tem acontecido, de resto, um pouco por toda a Europa, com a receita austeritária a exigir a entrega de todos os sectores de transporte aos privados; um serviço coletivo e que traz benefícios reais à economia que vão para lá dos balanços comerciais de cada entidade.  Mas quais os efeitos reais deste ataque nas condições como se realizam as viagens aéreas?

O enorme avanço tecnológico da aviação mundial nas últimas décadas e a redução de acidentes aéreos permite-nos encarar as viagens áreas com um sentimento de grande segurança e confiança. Acontece que entre pilotar um avião de 77 toneladas e fazer o ponto de embreagem num Renault Clio vai uma distância muito grande. O debate que se gerou em França depois do desastre do Voo da Air France 447, que se despenhou no atlântico em 2009, diz-nos muito sobre os efeitos de uma nova organização pensada a partir da redução de custos e da desvalorização do papel dos pilotos.

William Langewiesche, que em outubro publicou um artigo colossal na Vanity Fair sobre os últimos minutos do Voo da Air France, explica: 

"[No final dos anos 70] Apesar das rivalidades entre a Boeing e a Airbus, ambas alcançaram soluções similares para um novo desenho do cockpit. A primeira passava pela eliminação do engenheiro de voo, apesar das fortes objecções dos sindicatos de pilotos, que alertavam para o problema de segurança. Isto num tempo em que a engenharia dos aparelhos - motores, combustível, pressurização, hidráulica - tornava-se suficientemente auto-regulada de forma a dispensar um terceiro elemento responsável pelo controlo manual.   

A Airbus era considerada a perdedora, esbanjando fundos públicos e fazendo aviões que não vendiam. Pelo que a empresa decidiu encetar uma tentativa sem compromissos para produzir os aparelhos tecnologicamente mais avançados que fossem possíveis. Ignorando os protestos dos sindicatos, começaram por impôr o modelo de cockpit de apenas duas pessoas, abrindo o debate sobre o valor e papel dos pilotos.   

O avanço tecnológico acompanhado pela pressão economicista de redução de custos não permitiu, segundo muito especialistas, alcançar o modelo ideal: a implementação de uma cultura de trabalho coletivo na operação de pilotagem, fazendo uso dos incrementos tecnológicos sem eliminar o factor humano de um conhecimento manual capaz de ser usado em situações limites. 

Quem tiver o folego para ler na íntegra o artigo de Langewiesche irá perceber o nível de pressão e de exigência técnica impostos a um piloto comercial, e perceber que o salário destes profissionais está longe de ser o maior problema numa área com esta responsabilidade.  



Sem comentários:

Enviar um comentário