22 janeiro 2015

Reportagem em Atenas: a luta pelo serviço público de informação, por Nuno Moniz e Catarina Príncipe

Por um serviço público de informação
A empresa pública grega de televisão e rádio (ERT) foi fechada por decisão governamental a 11 de Junho de 2013. Não tiveram sucesso, porque os mais de 2000 trabalhadores e trabalhadoras, em protesto contra a decisão, ocuparam o edifício principal e continuaram a transmitir, contando com uma solidariedade nacional e internacional incrível, tanto em termos de mobilizações de apoio como de recursos (como a transmissão satélite). No dia seguinte, o Governo de Samaras (Nova Democracia) e de Venizelos (PASOK) propunham a NERIT, para substituir a empresa pública que contava com mais de 70 anos. A 7 de Novembro de 2013 uma operação policial evacua o edifício principal ocupado há 148 dias. A ERT continuou com o nome ERT Open.
“Já nada é como antes, agora temos certeza do que queremos fazer”. Dois estúdios, cinco programas, emissão para as pessoas que estão fora da Grécia, na Austrália, Estados Unidos, Moscovo. Programas de rádio em 19 cidades gregas. 150 pessoas em Atenas, 350 no país. 24 horas por dia, nada pára. Falámos com o Vagilis Papadimitriou que nos deu duas certezas: a luta dos trabalhadores da ERT é pela recuperação dos seus empregos e que as eleições de domingo decidirão também sobre o futuro da empresa de informação pública. Ou seja, se continuará o controle de informação (que dizem ser o objectivo que orientou a substituição da ERT pela NERIT) ou se haverá informação livre.
"Bem-vindos à ERT livre."
Uma oportunidade histórica
Foi publicada na mais recente edição da rede Transform! uma entrevista a Alexis Tsipras, conduzida pelo Haris Golemis, Director do Instituto Nicos Poulantzas. Uma oportunidade histórica, é o seu título e foi feita em Outubro passado. O caminho até 2012 e de 2012 até hoje. A análise política sobre as alterações no panorama político, económico e social dos últimos anos que tornaram possível haver um governo de esquerda na Grécia a partir de domingo. As reuniões com Schäuble, Draghi e o Papa Francisco. O euro, a União Europeia e a renegociação da dívida. Vale a pena ler, embora não seja curta e esteja em inglês. Mas, acima de tudo, fica a ideia de que as dificuldades e os obstáculos, assim como os perigos, são bem conhecidos. Com a mesma confiança que nos diziam hoje “Alexis, claro!”, é acrescentado que o Syriza não é só esperança, como nos dizem os cartazes. É a última esperança. Se falharem, este país falhou. "Porque se o Syriza falhar, só resta o fascismo".
Alexis Tsipras. Comício em Thessaloniki.
Marine Le Pen
A máxima dirigente da extrema-direita partidária de França veio a público dizer que espera que o Syriza ganhe. Não é de estranhar. Tal como uma parte da esquerda europeia, ela aposta no falhanço de um governo de esquerda na Grécia. Para Le Pen, essa vitória poderá reforçar o eurocepticismo. Estranho é que em Portugal, o jornal “Público” tenha dado todo o espaço às reacções de membros da Nova Democracia, o principal interessado. Em caso de dúvida, fica um excerto da reacção do Syriza: “A ascensão do SYRIZA e das forças progressistas na Europa não só formam uma barreira contra a extrema-direita encarnada pela Senhora Le Pen, como é também uma mensagem de apoio à democracia, dirigida a todos os inimigos da extrema-direita.”.
Sessão de apoio ao Syriza em Paris.

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