25 fevereiro 2015

E se te oferecessem 1000 euros em troca de um despedimento na empresa?



Depois das Palmas de Ouro com "Rosetta" (1999) e "A criança" (2005), Luc Dardenne e Jean-Pierre Dardenne voltaram em 2014 a Cannes como uma indicação para este "Dois dias, uma noite" (2014). O objeto é imensamente atual e trata o caso de Sandra, uma trabalhadora brilhantemente interpretada pela francesa Marion Cotillard, que depois de uma depressão está na eminência de ser despedida. O dono da empresa propôs aos trabalhadores que votassem entre receberem todos um prémio salarial de 1000 euros ou manterem o posto de trabalho de Sandra. 

Confrontada com uma primeira votação arrasadora na sexta-feira, Sandra é ajudada por uma companheira a ir falar com o patrão para que a votação pudesse ser repetida na segunda-feira. O patrão acede e Sandra tem apenas um fim-de-semana, dois dias e uma noite, para convencer os trabalhadores da sua empresa a apoiarem a sua permanência no local de trabalho, mesmo que para isso tenham que abdicar do prémio de mil euros prometido pelo patrão. 


O que choca neste filme não é só a dureza da situação retratada. A crueldade, a expressão e a carga emocional de uma mulher que corre um a um, todos os seus colegas, a implorar que estes votem pela sua permanência na fábrica. O que choca também é que no retrato dos dramas do desemprego, a representação da resistência seja essencialmente a partir do foro individual e não através de instrumentos coletivos. Não é por acaso. A individualização das relações laborais e das sociedades traduziu-se num enfraquecimento brutal da parte com menos poder numa relação de trabalho: os /as trabalhadores/as assalariados/as. E a individualização da resistência parece ser o que percorre os imaginários coletivos. Isso só nos deve alertar. É mesmo preciso criar algo novo e agir de forma diferente. Que este magnífico filme nos ajude nessas tarefas. 

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