04 fevereiro 2015

Influenciar o próximo governo com 4 ou 5 deputados?


Diz o Finantial Times que Portugal é a flor que se salva no pântano populista em que está mergulhada a Europa. Ao contrário de outros países intervencionados pela troika, abalados pela vitória do Syriza e subidas substanciais do Podemos e Sinn Féin, Portugal e o seu centro político permanecem estáveis. Um país em que o partido mais similar ao Syriza e ao Podemos, segundo o jornal financeiro, alcança apenas 2% nas sondagens. Falam-nos do LIVRE+Tempo de Avançar, cujo dirigente, Mr. Tavares, diz esperar eleger 4 ou 5 deputados nas legislativas, tendo uma palavra a dizer sobre o próximo governo PS.

A tese não é nova. O desfecho, nebuloso. Ou bem que o PS alcança uma improvável maioria absoluta, aniquilando a proposta, ou o novo partido tem de somar o lhe falta para a alcançar.

O problema é que esta matemática intima os dirigentes da nova formação a fugir do tenebroso lugar do meio. Aquele em que nem os seus deputados garantirão uma maioria. Que um partido, que se apresenta como a força cidadã para revolucionar a participação democrática, tenha como ambição a eleição de 4 ou 5 deputados já nos diz muito. Mas não há qualquer coisa de que nos estamos a esquecer? É mesmo o Tempo de Avançar+Livre o partido português mais similar ao Syriza e ao Podemos? É que de súbito vêm-nos à memória uma imagem, a de Pablo Iglesias na noite eleitoral das Europeias, assumindo a derrota pelos 8% e deixando a garantia de não desistir da vitória que permita ao Podemos liderar um governo. Falamos de antípodas, não?

O cordão sanitário de José Vítor Malheiros

Erra quem diz que neste novo partido há uma certeza colectiva inelutável em caminhar para o regaço do PS. As condições para lá chegar são expressas de diferentes maneiras pelos seus dirigentes. Tudo normal. Acontece que ao contrário do que vimos no tempo dos 3D, no qual a referência ao PS era diluída na proposta de uma grande esquerda (PS, BE, PCP), ela agora transformou-se em declaração estratégica e engole a maior parte das propostas políticas apresentadas pelos seus dirigentes. Só vemos o PS no fim do túnel.

Essa via destoa em tudo do caminho seguido pelo Syriza, que esmagou o centro político grego e consegue hoje liderar um processo de enfrentamento político que nenhum dos partidos socialistas europeus se atreveu a assumir. Não há muitas dúvidas quando José Vítor Malheiros nos diz que "A plataforma do Tempo de Avançar pode ser considerada optimista ou até ingénua, mas é clara. Só que, ao contrário de outros movimentos europeus que se situam também no campo antiausteritário, como o Syriza ou o Podemos, tem a característica de não ter definido como objectivo a sua eleição sobre as cinzas dos partidos existentes. Para o Tempo de Avançar, o tempo é ainda de colaboração e de discussão, de debate e construção.".

Ao contrário de muitos dos seus colega dirigentes, que tentaram estabelecer uma lógica desigual e combinada das vitórias de Syriza e Podemos com o contexto português, Malheiros traça o cordão sanitário.

São mesmo diferentes. 

2 comentários:

  1. "Acontece que ao contrário do que vimos no tempo dos 3D, no qual a referência ao PS era diluída na proposta de uma grande esquerda (PS, PSD, CDS),"

    ????

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  2. Obrigado pelo reparo, queria, claro, escrever PS, PCP e BE.

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