19 fevereiro 2015

Tempo de Avançar, ou como a promessa de reforços chega mais rápido a Atenas do que ao Funchal



A candidatura LIVRE+Tempo de Avançar, liderada por Rui Tavares e Daniel Oliveira, enviou uma carta ao governo grego. O repúdio pela posição subserviente do governo português no Eurogrupo é o mote para uma demonstração de solidariedade com a única força política da esquerda radical capaz de enfrentar a burguesia alemã no seu próprio terreno. A carta será entregue amanhã na embaixada helénica em Lisboa por Rui Tavares, que depois de ter apoiado, em 2012, o DIMAR - partido que defendia uma ponte eleitoral com o Pasok - alinha disciplinadamente pela orientação da candidatura cidadã.

Mas isto são intróitos já muitas vezes proferidos. A novidade é que tudo se estreitou nesta semana. No plano europeu, O LIVRE+Tempo de Avançar procurou adiar a contradição política de ter como líder um ex-eurodeputado dos Verdes europeus e uma maioria dirigente que procura colmatar uma das suas principais insuficiências, a falta de ligação e intimidade com os partidos que na Europa lideram a frente anti-austeritária (Esquerda Europeia). Tudo poderia ser cimentado com uma participação, e uma posição de fundo, no próximo governo. Ora, a ideia de um governo liderado por Costa que vai bater o pé a Berlim ficou feita em cacos esta semana, com o isolamento político da Grécia a provar que os socialistas europeus escolheram o seu lado.

Depois, há a massa de que se faz uma política. É que toda a gente já percebeu que quando Tsipras quer falar com Portugal é o número da Marisa Matias que aparece no telefone. E não, não se trata de um campeonato. Trata-se de perceber quem carrega a coerência, quem acumulou forças numa Europa dominada pela finança a partir de uma estratégia radical do afundamento do centro político.

A carta é, afinal, um gesto bonito - "Caros concidadãos gregos: Aguentem firmes! Os reforços vêm a caminho!" - mas percebe-se que o destinatário é o eleitorado português. O que torna o estreito ainda mais apertado. É que esta semana ficamos a conhecer as listas candidatas ao governo regional da Madeira, num tempo em que o jardinismo dá sinais de estertor. O LIVRE não é um dos 16 partidos que se apresentam ao pleito. Dir-me-ão que a prudência de não contrariar a tendência ascendente a nível nacional e a falta de aparelho ditaram a não comparência. Mas caramba, até o MAS, que se constituiu pouco antes do LIVRE e teve 13 mil votos a nível nacional, vai à luta nesta fase decisiva.

Até porque sabemos que o Daniel Oliveira foi, de facto, uma das pessoas que mais coragem demonstrou no combate ao regime de Jardim, na crítica contundente ao offshore da Madeira e na defesa da liberdade de imprensa na região.

É caso para dizer que os reforços, antes de Atenas, bem podiam chegar ao Funchal.

3 comentários:

  1. "até o MAS, que se constituiu depois do LIVRE" - alguém precisa de ir rever os apontamentos

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  2. "No plano europeu, O LIVRE+Tempo de Avançar procurou adiar a contradição política de ter como líder um ex-eurodeputado dos Verdes europeus" - sabe que Os Ecologistas gregos foram a eleições coligados com o Syriza e que têm membros no governo, certo?

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  3. Tem razão. Já está corrigido. Mas a ideia mantém-se não?

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