19 abril 2015

Ana Drago, o LIVRE e as privatizações. Em que ficamos?



Um ano e três meses depois, terminou a curta vida do LIVRE. Votada em "congresso estatutário", a proposta de fusão com o Tempo de Avançar não mereceu reprovação. A unificação é uma vitória de Rui Tavares, que na antecipação conseguiu alargar o seu projecto, reafirmando a sua liderança. Respeitando o simbolismo do fim de semana, o LIVRE/Tempo de Avançar lançou a sua primeira campanha de rua coordenada em todo o país. Entre hoje e as legislativas é uma nesga.

Do panfleto que a nova formação fez chegar à rua, em tudo fiel às propostas contidas na Agenda Inadiável de uma nova maioria, constam uma confirmação e um recuo.

 A certeza é que o tema do Tratado Orçamental foi definitivamente varrido da agenda eleitoral do partido, quedando-se por uma declaração de intenções "Negociar com determinação na União Europeia para reestruturar a dívida pública e assegurar orçamentos que garantam os serviço públicos, deixando a economia respirar." Como já alguns tinham frisado, uma maioria liderada por um PS que faz do seu compromisso com o Tratado Orçamental todo um programa e pertence à família política que na Europa compactua com a direita para sufocar o governo grego, simplesmente não assumirá uma ruptura com Merkel. A confirmação explica também o desconforto provocado no seio do LIVRE/Tempo de Avançar pelo "Manifesto para uma esquerda que responda a Portugal", dinamizado por Manuel Loff e Fernando Rosas. É que tal como consta dessa proposta, se há um caminho que pode ajudar no diálogo à esquerda é o entendimento comum da ruptura com o Tratado e a sua jaula orçamental.

O recuo é na proposta que o partido faz na política das privatizações. Quando Ana Drago esteve no programa Bloco Central da TSF, em fevereiro, questionada sobre as diferenças entre a proposta política do PS e do novo projeto, a resposta foi veemente, "quem está do lado do Tempo de  Avançar diz que o compromisso primeiro do Estado português é com os seus cidadãos e com a sua constituição, isso traduz-se numa lógica de reversão das privatizações que foram feitas nos últimos anos". Quer isto dizer, como é referido por Drago na entrevista, as privatizações dos CTT, da PT e das energias, às quais se somaram os aeroportos. Esta posição é coerente com o que a Ana Drago sempre defendeu no Bloco, com a competência que todos lhe reconhecem.

Ora, quando lemos o panfleto do Tempo de Avançar, o que lemos é que o partido dispõe-se a "travar os processos de privatização não finalizados e verificar a legalidade e transparência das privatizações dos últimos anos." Convenhamos que a diferença é substancial. Parar a privatização em andamento da TAP e das empresas de transporte é sem dúvida uma necessidade basilar de um governo de esquerda. Já reverter as privatizações realizadas durante o assalto da troika e, igualmente, durante os anos de governo socialista, implica muito mais do que uma consulta legal ou um apelo à transparência. Resgatar os aeroportos, a Galp e a EDP de uma burguesia parasitária não é um mecanismo jurídico, é uma escolha política que reclama a soberania de escolhas económicas mobilizadoras e populares.

Qualquer tentação etapista, "pára-se estas e as outras logo se vê" é o pior contributo para uma agenda clarificadora à esquerda. Um pólo que à esquerda do PS esteja preparado para assumir a ruptura com o Tratado Orçamental e tomar em mãos a reversão das privatizações que permitam ao país decidir sobre os seus recursos e a sua economia, é do que precisamos.    


2 comentários:

  1. q panfleto tao mal conseguido ainda por cima. n ha jornalistas no livre/tempo de afundar? só oportunistas?

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  2. folhetos não são programa. criticar o governo pode ser mais útil. respeitem a democracia e quem quer mais e melhor para o povo, como toda a esquerda quer. fim ao sectarismo inútil. sejam solução concertada e séria.

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