19 março 2014

A história do bisavô e as histórias do Vítor Gaspar

 Num colóquio no ISCTE, o ex-ministro das finanças de Passos Coelho terá lembrado que José Dias Ferreira, bisavô de Manuela Ferreira Leite, terá recusado pagar a dívida pública externa, contrariando a proposta de Oliveira Martins, seu ministro das finanças e tio-bisavô do actual presidente do Tribunal de Contas. Em consequência, o Estado declarou bancarrota e o governo caiu. A família tem destes problemas, nunca somos responsáveis pelo que fazem e pelo que dizem os nossos parentes, ainda por cima um século atrás.

A moral da história de Vitor Gaspar, no entanto, tem um problema. É que o Estado português renegociou a dívida depois de ter declarado o seu incumprimento. Rejeitou a pressão da Inglaterra e da Alemanha que queriam ficar com activos do Estado (neste caso, uma parte das colónias). Negociou taxas de juro baixas e um prazo agigantado para quase um século. E viveu sem problemas de novas bancarrotas. Ou seja, os bisavós fizeram o que hoje é recusado pelos mandantes financeiros.

Mas Vitor Gaspar ainda se engana outra vez quando vai buscar um exemplo fora da família, o de Alexander Hamilton, um dos fundadores dos EUA (foi chefe de gabinete do general Washington e depois ministro das finanças). É que Hamilton não defendeu só contas equilibradas e rigorosas, o ponto referido pelo ex-ministro português. Ele usou também os instrumentos que tinha à mão, incluindo uma política proteccionista para proteger as novas indústrias no seu país. Recusou a liberalização dos capitais e das mercadorias e os resultados parecem dar-lhe razão. Conseguiu o que agora nos está proibido.

Ou seja, os dois exemplos de Vitor Gaspar contrariam a política do governo e da troika. O primeiro demonstra que é preciso renegociar a dívida. O segundo demonstra que é preciso defender a economia da agressão liberal. Aqui estão dois bons conselhos, que os bisavós bem conheciam e que faremos bem em lembrar. A família ensina-nos sempre alguma coisa.

2 comentários:

  1. Hum , a mim só me espanta como é que Vítor Gaspar ainda não deu por nada . Entre Foucault - o paradigma e as políticas sistémicas dentro do contexto, pois claro
    o único conselho q lhe deixava era q refletisse mais conjuntamente com o primo . mas a famílias tem destas coisas . a nação divide-nos .

    http://www.publico.pt/ciencias/jornal/atras-das-viagens-filosoficas-de-dois-naturalistas-em-sao-tome-26829063

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  2. Que era incompetente ao seu ao maximo expoente disso já sabíamos. Tambem se o não fosse nao teria estado neste governo de fantoches mainatos de Berlim e Bruxelas nem teria sido convidado para engrossar a fileiras de asnos do FMI.

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