O sistema educativo é provavelmente
um dos assuntos mais discutidos quando se abordam as evoluções que a sociedade
portuguesa viveu nestes quarenta anos de democracia. E não é para menos. Perante
um atraso educativo que era parte do projeto de regime e perante indicadores
educativos miseráveis, a sociedade portuguesa em quarenta anos de democracia conseguiu
construir um sistema educativo a uma velocidade imensa. Haverá poucos exemplos
de como em quarenta anos se inverteram de forma tão decisiva os indicadores
educativos e de como, em tão pouco tempo, se ergueu uma escola pública com
ambições emancipatórias e democratizadoras. Mas se esse avanço foi imenso, a
escola pública e a universidade em Portugal continuaram sempre a ser um palco
de desigualdades educativas e de desigualdades sociais, económicas e cultuais mais amplas. É disso que
este livro trata: das desigualdades que ainda se fazem sentir no nosso sistema
educativo.
Persistem índices de insucesso e de
abandono escolar bastante elevados, especialmente em grupos, classes e regiões
mais vulneráveis às desigualdades sociais. E isso traduz-se necessariamente em
trajetórias educativas (e mais tarde sociais e profissionais) altamente desiguais.
Este livro trata desse assunto com bastante rigor. David Justino discute a
relação entre as origens, as expetativas, as oportunidades e o desempenho dos
jovens na escola. Pedro Abrantes traça os percursos da escolarização tardia da
sociedade portuguesa, ao passo que João Teixeira Lopes, inflector desta casa,
identifica as tendências e as contratendências nos percursos dos estudantes
universitários em Portugal. Pedro Silva e a Ana Matias Diogo discutem, em
capítulos diferentes, a relação entre a escolarização, as origens familiares e
as desigualdades, ao passo que Suzana Nunes Caldeira e Margarida Damião Serpa abordam
o problema da gestão das aulas em escolas com diferentes composições sociais.
Assim, este livro dá uma abordagem e
uma atualização empírica às reflexões que se têm desenvolvido sobre as
desigualdades na escola. E dá-nos uma arma cognitiva fundamental para
percebermos, como referi na minha estreia no Inflexão, que há um projeto
ideológico claro em Portugal de mitigar os avanços imensos que se fez no
terreno da democratização da escola e de reforçar a herança de uma escola
contaminada pelas desigualdades que persistem na sociedade portuguesa.
É por isso um livro importante.
Para sabermos das escolas que temos. Para sabermos como lutar por elas.