Nanni Moretti, em "Palombella Rossa", um dos seus primeiros mas mais conhecidos filmes, gritava para uma jornalista "as palavras são importantes!". E como são. A quem as controla cabe o poder de definir as fronteiras do possível, do inevitável. A quem as controla cabe o privilégio de decidir o que é ou não "económicamente aceitável".
Quem rejeita a austeridade fá-lo por ideologia. E quem a defende, fá-lo porquê? Quem admite uma reestruturação da dívida para impedir o sangramento do país fá-lo por radicalismo. E quem submete salários, pensões e o Estado Social ao pagamento cego de uma dívida aos mercados financeiros, fá-lo porquê?
Não há neutralidade na economia, como não há na política. Um dos grandes feitos, talvez mesmo o maior, dos ideólogos liberais é a naturalização semântica (e não só) das suas propostas. Por mais violentas e extremistas que estas sejam, aparecem sempre apodadas de “técnicas” ou “tecnocráticas”. Daqui até à inevitabilidade da sua aplicação, descartando a existência de alternativas ou desconsiderando-as, essas sim, como ideológicas e radicais, é um passo.