Os tempos que vivemos são negros e não afiguram qualquer sinal de retoma. Pelo contrário: tudo indica que o nosso futuro imediato será uma acelerada corrida para o abismo. O espírito da austeridade infiltrou-se em todos os domínios das políticas sociais, económicas e culturais e o seu resultado é um país à beira do desastre coletivo. Com a evidente exceção dos mais ricos entre os mais ricos, que viram os seus rendimentos aumentar, toda a sociedade ficou mais pobre nestes anos de sacrifícios. Mas no caso dos jovens essa realidade tem ganho contornos assustadores. Há mais estudantes expulsos das universidades por razões económicas, o desemprego jovem e de jovens com formação superior não pára de aumentar, a emigração forçada já constitui um marco de uma geração e a precariedade tornou-se um modo de vida imposto por esta agenda ideológica de radical ataque sobre a sociedade.
O governo e os seus papagaios-comentadores têm-se esforçado por criar na sociedade a ideia de que os sacrifícios valeram a pena e que finalmente o país caminha para uma sustentável perspetiva de crescimento e progresso. O esforço de todos esses ilustres burocratas é meritório, mas todos os dados indicam o contrário. No caso da juventude, os dados divulgados pelo INE esta semana são muito claros: um em cada quatro jovens estão em risco de pobreza e vivem em famílias pobres; temos menos 500 mil jovens no país desde 2001; 41,6 % dos jovens entre 25 e 29 anos ainda vivem em casa dos pais; o desemprego jovem representa o dobro do desemprego geral, cifrando-se em 26,3 %; a média salarial dos jovens empregados situa-se nos míseros 607 euros.
Os dados são terríveis para o nosso futuro mas, como se costuma dizer, a procissão ainda vai no adro. Perante esta realidade, um governo decente investiria mais na educação dos seus jovens e na criação de emprego qualificado e com direitos que permitisse que estes tivessem capacidade e autonomia para decidir viver em Portugal. Mas as notícias desta semana são outro desastre desse ponto de vista: o governo vai insistir na razia, cortando mais 14 milhões de euros às universidades e politécnicos.