Queria contar-vos, no
espaço de algumas linhas, a história da política do possível.
Ao contrário de
outras histórias, efabulatórias e perigosamente imaginativas, a história da
política do possível não começa com “era uma vez…”. Na verdade, ela é tão
bolorenta e tão repetitiva que é preciso poupar nos intróitos, não vá congelar os
ouvintes e o próprio narrador numa espécie de inanição mortífera. Vamos
directos e ligeiros, que o tempo urge e as palavras custam.
A política do possível é
um esmifrado encolher de ombros que, em vez de se reduzir à insignificância que
a define em si mesma, se revela fundamental para manter a ordem das coisas. Ela
é presente e passada (só não é futura porque não queremos poluir o possível com
incertezas temporais). Três características fundamentais resumem a política do
possível:
1.
A política do
possível é velha como o mundo. A sua provecta idade talvez justifique a
tendência para sustentar os desígnios mais conservadores, mais arrumadinhos e
mais sensatamente prendados. Ela não faz história, mas alimenta o presente
histórico para não deixar que nada aconteça.
2.
A política do
possível é mais possível do que política. Aliás, em bom rigor ela até é
apolítica. Por isso é prática e maneirinha. Foi ela que ditou a aceitação
encolhida da austeridade e tem sido ela que tem mantido uma Europa gerida e
governada a folha de cálculo, dando uso exclusivo da máquina de calcular ao
mesmo conjunto de donos/as. A política, no proceder exclusivo de um guardião do
possível, é uma chatice institucional gerida a tempos mortos.
3.
A política do
possível é birrenta. Vocifera frequentemente contra “contos de criança”, contra
quimeras nebulosas e contra o próprio espírito do Contra. Ela é liminarmente
contra o Contra. Por isso mesmo (e como – com – dá +), a política do possível
está sempre pronta a dizer que sim a tudo e a firmar os pés no terreno concreto
da aceitação. E é por isso que se revela tão volúvel, sujeita como está à
circunstância e à conveniência das possibilidades. Ela é um bocejo, na sua
candidez pragmática. Ela é um deserto de ideias e uma repetição de acções,
andando pelo espaço público como quem conta carneirinhos.
Muito
haveria a dizer sobre a política do possível e sobre o seu poder soporífero,
mas vai longo o post e convém não maçar almas leitoras para lá das
possibilidades. Resta sublinhar que foi esta política do
possível, a velha e presente política do possível, que sofreu um rude golpe
com os ventos vindos da Grécia. Esta atitude adormecida, este bocejo do
possível, tombou um pouco com os votos do povo grego, que ousou agir no avesso
do possível e nas costas do apolitismo maçador do ajanotado aparelhismo
europeu.
E é por isso que, na Grécia, ninguém está com vontade de dormir.
E é por isso que, na Grécia, ninguém está com vontade de dormir.
É despertar, Europa!
z
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