07 janeiro 2015

Charlie Hebdo: nada muda e tudo se transforma

As doze pessoas mortas hoje, em Paris, são aquilo que importa. Confesso; não sou grande fã da estética Charlie Hebdo, mas respeito a sua história e o seu papel de combate à censura. Porque, de resto, pouco mudará: a islamofobia, na Europa, continuará mascarada, por um lado, pelo orientalismo higiénico e, por outro, pelo racismo desenfreado dos Bernard Lewis, Orianas Fallacis e companhia, que não hesitam em ignorar quase tudo sobre o Islão ou em promover uma etnicização reducionista.

A publicação do novo romance de Michel Houellebecq, que não parece ser brilhante, também pode ser um sinal. Tal como os desenvolvimentos na Alemanha, onde a catedral de Colónia e a Porta de Brandeburgo desligaram as suas luzes para mostrar que o Pegida, um movimento islamofóbico que não pode ser exclusivamente associado a franjas neonazis, não é aceite pela esfera pública alemã. Pena que a indignação não se tenha manifestado desta forma aquando dos Donermorder, da utilização destes e de outros cartazes pelo NDP nas eleições de Berlim, em 2011. O Bild é uma publicação particularmente nojenta e hipócrita: o maior tablóide europeu faz o seu caminho à custa de ódio e não podemos esquecê-lo.

Entretanto, Tariq Ramadan já se pronunciou, tal como o Conselho Francês do Culto Muçulmano. Percebo a atitude, embora seja um sintoma: as comunidades muçulmanas europeias e residentes na Europa não têm a responsabilidade de manifestar o seu compromisso com a democracia porque uma equipa de pessoas com treino e armas de calibre militar, depois de assassinarem doze pessoas, fazem sinais e entoam palavras associáveis ao Islão.

Nada mudará muito. Haverá uma sensibilidade aumentada à incerteza, por parte de quem não encontra inimigos em todas as portas. Aqueles que odeiam continuarão a odiar. Por cá, teremos as cabeças ignaras do costume a falar de coisas que não percebem.

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