13 fevereiro 2015

PSD garante nomeações no IEFP


Esta semana ficamos a saber que os concursos públicos para a Segurança Social foram uma invenção à moda da direita portuguesa: trezentos candidatos, cem entrevistas e no final ganham os do PSD e CDS. Este tipo de aparelhamento das funções basilares do Estado é uma marca profunda do regime, expondo a contradição entre o discurso meritocrático matraqueado pelos seus dirigentes e uma prática que tem tanto de clientelista como de reprodutiva. Servem-se a si mesmos e ao fazê-lo reproduzem uma estrutura de poder, no caso os partidos que governam Portugal há quatro décadas.

O caso do Instituto de Emprego e Formação Profissional (IEFP) é exemplificativo. Este organismo tem sido exímio na propaganda do empreendedorismo e do esforço pessoal como via para resolver o desemprego. Todavia, quando observamos a composição dos seus órgãos dirigentes, mais do que carreiras, vemos carreiros.

Em dez dos cargos superiores responsáveis pelos centros regionais do IEFP, seis são ocupados por dirigentes do PSD. São os casos de César Ferreira, ex-autarca do PSD Porto e agora delegado regional do Norte, de José Licínio Tavares Pimenta, candidato pelo PSD à Câmara Municipal de Albergaria-a-Velha que ocupa atualmente o cargo de subdelegado regional do Centro, e ainda do delegado regional de Lisboa e Vale do Tejo, Vitor Gil, ex-membro da Assembleia Municipal de Tomar na lista liderada por Miguel Relvas.

10 fevereiro 2015

Passos contra Passos

Rui Machete: “A Grécia faz parte do euro, e nesse sentido devemos considerar estudar as medidas que são propostas pelos gregos. É isso que o Governo português vai fazer. Estamos do outro lado da mesa das negociações, e essa é a postura certa, mas isso não significa desconsideração ou desatenção. Não temos vindo a desinteressar pelo futuro da Grécia".

Pedro Passos Coelho, I: "Isso [as soluções propostas pelo governo grego] é um conto de crianças, isso não existe".

Pedro Passos Coelho, II: "Há soluções que, quando encontradas, não podem deixar de valer para toda a gente."

Portanto, o MNE português sugere que os interesses da República Portuguesa não são os da República Helénica; portanto, amanhã, a Ministra das Finanças contestará as propostas de Varoufakis e apoiará um compromisso que reforce o status quo. O PM português diz que as propostas de Varoufakis e companhia são um conto de crianças e não existem, mas, se as negociações resultarem nas soluções que, à partida, considera inviáveis, são aplicáveis a todos.

Um retrato possível do estado actual deste bloco hegemónico. O Inimigo Público não faria melhor.


09 fevereiro 2015

50 sombras de Grey: a precariedade tira-nos a vontade


Não conhecemos ainda a versão cinematográfica do romance de E.L. James, mas diz-nos a imprensa diária que o filme conta, seguramente, com um contributo português. No apartamento do sado-masoquista Cristhian Grey, a personagem central da trama (que alguns conhecerão de leitura própria), poderemos ver peças de mobiliário de uma conceituada empresa de design portuguesa, a Boca do Lobo. Não somos esclarecidos se o mobiliário interfere diretamente na ação tórrida do filme, mas a marca da inovação e do empreendedorismo nacional parece estar garantida.

Acontece que já algumas pessoas alertaram para o facto da empresa Boca do Lobo pertencer ao Menina Design, grupo conhecido pelo seu recurso abusivo aos estágios e ao trabalho não remunerado. A plataforma Ganhem Vergonha denunciou o caso nesta reportagem da RTP.

08 fevereiro 2015

Manifestação Internacional - Somos todos gregos


Evento no facebook: aqui

Neste dia, realiza-se uma importante reunião do Eurogrupo, que irá definir a posição da zona euro em relação à renegociação da dívida grega.

As eleições gregas vieram agitar as águas paradas do pântano europeu. A vitória do SYRIZA, que se propõe romper com as políticas da troika, desafia a ideia dominante de que não existe alternativa ao empobrecimento generalizado e à austeridade infinita.

Os últimos dias revelaram a hostilidade de instituições e governos europeus relativamente à própria possibilidade de uma política que devolva um mínimo de esperança e dignidade a milhões de pessoas sem emprego e sem direitos, obrigadas a viver na rua ou às escuras, sujeitas à fome e privadas de cuidados médicos. Parece evidente que estão em jogo questões decisivas que ultrapassam o quadro nacional da Grécia.

O governo português já se mostrou indisponível para qualquer esforço conjunto para reduzir o peso da dívida à escala europeia e encontrar soluções que permitam responder à catástrofe social em que vivemos. Orgulha-se mesmo de ter aplicado com sucesso medidas que empobreceram muitos e enriqueceram poucos, enquanto a dívida pública aumentou, o défice derrapou e o desemprego atingiu dimensões inéditas. Quando garante que Portugal não é a Grécia, espera que aceitemos com resignação o atual estado de coisas, como se fosse possível ignorar que acaba de se recusar na Grécia o que nos querem fazer engolir em Portugal.

Neste momento decisivo em que a resistência ganha novo alento, por toda a Europa se convocam manifestações em solidariedade com o povo grego e em repúdio pela arrogância e a hostilidade reveladas pelas instituições europeias. É tempo de sair à rua e enviar um sinal claro de que estamos todos no mesmo barco e não aceitamos a miséria que nos querem impor.

Porque a nossa luta é internacional, aqui e agora, somos todos gregos.