18 junho 2015

As pensões são o problema da economia grega?



Dizer o que deve ser dito. Um dia se escreverá na pedra da história que a desintegração da União Europeia, 70 anos depois do fim da II Guerra, começou pela recusa em reestruturar a dívida de um país que representa 2% da sua economia. Esse é o centro, é a questão, é o problema. O governo grego está amarrado a um pagamento da dívida herdada por um consenso de regime nacional e europeu que destruiu 25% do PIB. Essa dívida não assenta apenas na disparidade entre a capacidade produtiva grega e o seu nível de consumo, como nos dizem desde o início desta longa crise. Contem-nos a história toda. O desequilíbrio do euro fez disparar a dívida privada na Grécia. A troika foi um instrumento para salvaguardar os bancos privados europeus da exposição à dívida grega. A austeridade destruiu a economia e causou a insustentabilidade da dívida medida na sua relação com o PIB. Contem tudo.

Agora veio a finta, o pretexto, a grande ocasião. O governo Alemão quer impor um corte de 400 milhões nas pensões gregas em 2015. É a linha vermelha e o discurso oficial que ficará desta tragédia. Um dia se escreverá na pedra da história que a expulsão oficial da Grécia do euro e da União deveu-se a um desacordo sobre uma medida que representa 0,002% do PIB europeu. Mas o projeto e a estratégia é mesmo empobrecer a Grécia nos próximos. Que ninguém cometa a ousadia de aqui ver um golpismo, uma lição, um porrete na cabeça do Syriza. Esta Europa ainda tem um hino (lembram-se qual é?).


Mas é sabido que este comércio tem duas partes. Toma lá, da cá. No meio da ponte, à vigésima quinta hora. Lá chegados, ouvir bem o grande impasse, o problema da economia grega são as pensões. Tsipras apresenta uma resposta, aos alemães e a todos nós, com uma tese e 9 pontos:

14 junho 2015

Come e cala ou o desastre da política cultural

A situação da cultura em Portugal assume dimensões realmente trágicas. Na última década, o investimento público central na cultura desceu 75 %, alimentado num discurso tão cínico quanto ignorante de que quem for suficientemente ousado consegue encontrar fora do Estado os apoios necessários à criação artística. Uma tristeza. Da “democratização cultural” e “liberdade artística” à promoção do “empreendedorismo cultural” e das “industrias criativas” deu-se um salto ideológico de dimensões avassaladoras.
À perda de direitos de acesso da população à cultura e às várias variantes da criação artística, à peregrina desistência de uma política de aposta na criação de públicos e à demissão do estímulo à democratização cultural no conjunto do país, correspondeu também a degradação das condições de trabalho e a precarização dos vários profissionais do setor.  
A descapitalização pública do apoio à cultura que se manifesta antes mesmo da crise financeira faz com que hoje o Orçamento do Estado não reserve mais do que 0,1% do PIB para investimento no setor cultural. Uma vergonha. A cultura não só já não tem um Ministério com capacidade e meios de apoio à criação e à formação de públicos, como está sujeita a uma única orientação política: desinvestimento público, degradação das condições de trabalho dos profissionais, redução do direito de acesso à cultura e degradação das condições de liberdade artística.