Portugal
fez um esforço enorme de qualificação da sua população nas últimas décadas.
Hoje continuamos no geral a ter uma sociedade pouco qualificada e na cauda da
Europa mas que fez enormes progressos. Temos mais jovens qualificados mas que
ainda são muito menos dos que o universo de
jovens em idade de estudar no Ensino Superior. Mas para além da questão da
democratização do acesso e das expectativas sobre ao Ensino Superior, nestes
tempos de transformação acelerada vale a pena pensar o que está a acontecer aos
jovens diplomados em Portugal. Os dados oficiais escondem uma parte
considerável da realidade. Os dados do antigo GPEARI e da actual DGEEC que as
universidades divulgam, apenas contabilizam no "desemprego dos diplomados" os
jovens que se encontram inscritos nos centros de emprego. Como se percebe,
estes são muito menos que o universo geral de diplomados realmente em situação de desemprego. E de facto, das catorze
universidades públicas portuguesas apenas sete delas aplicam inquéritos
próprios sobre o percurso dos seus diplomados. Vejamos desses inquéritos, a
título de exemplo, o que tem acontecido na Universidade Nova de Lisboa e na
Universidade de Évora ao nível do emprego, desemprego e adequação do trabalho à
formação nos últimos anos.
Fig1: Situação perante a atividade dos licenciados da UNL Fonte: OBIPNOVA |
Fig 2: Situação face ao emprego nos licenciados na Universidade de Évora Fonte: Observatório do Emprego, UÉv |
Tomando
o caso da UNL como exemplo, temos assistido, quer nos diplomados licenciados
quer nos mestres, a um agravamento progressivo das condições de emprego e de
desemprego. É de ressalvar que no período aqui comparado se introduziu em
Portugal o processo de Bolonha, mas é inegável constatar que quer nos
licenciados, quer nos mestres, as taxas de desemprego sobem ao longo dos anos
de forma ininterrupta. Contudo, é de salutar também que quando comparada com a
taxa de desemprego geral dos jovens portugueses que em Agosto de 2013 se situava
em 36,8 %, a formação superior ainda coloca os jovens menos vulneráveis ao
risco do desemprego. No caso
de Évora os dados comparados entre os diplomados com licenciatura de 2009 e de
2012 mostram que as situações de contratação precária, vínculo de definitivo e
trabalhadores por conta própria diminuem, ao passo que as situações de
desemprego aumentam e proliferam outras condições de trabalho como o trabalho sem contrato, as avenças e o trabalho informal. Ainda
assim, é de salutar que um quarto dos diplomados de 2012 declaram estar
sujeitos a contratos precários, enquanto em 2009 correspondia a um terço dos
diplomados.
Fig3: Adequação entre emprego e nível de ensino nos diplomados pela UNL Fonte: OBIPNOVA |
Fig4: Adequação entre emprego e área de formação nos diplomados da Universidade de Évora Fonte: Observatório do Emprego UÉv |
Tão
importante como saber o desemprego e o emprego é, de facto, saber se o emprego que os
recém diplomados têm corresponde à sua área e nível de formação Superior. Em ambos os
casos, salvo uma variação na UNL em 2009, se constata um agravamento da
percentagem de diplomados que não cumprem funções adequadas à sua área e nível de
formação. Há portanto uma diminuição progressiva do emprego qualificado e das condições de trabalho dos jovens diplomados.
No
plano do desemprego e do emprego qualificado assistamos a uma degradação progressiva
da situação dos recém diplomados em Portugal. Isto diz muito sobre um o momento
histórico que vivemos. É que podemos estar a assistir à brutal estupidez de ter
hoje uma política económica e de ensino que destrói todo o esforço de
qualificação da sociedade portuguesa das últimas décadas. Isso parece estar a acontecer nestes indicadores e no próximo texto veremos como se também de confirma para o caso dos vínculos contratuais
e do valor dos salários.
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