Deixar o debate pela rama produz dois efeitos politicamente úteis para quem executa a agenda política: por um lado, oculta a evolução que a sociedade portuguesa conseguiu conquistar nos domínios da qualificação nos últimos anos; e, por outro lado, reproduz, acentua e naturaliza os piores indicadores que persistem na relação entre escola e as desigualdades. Vejamos curtos exemplos dos dois efeitos.
Gráfico 1: Indicadores de Educação entre 2001 e 2011 Fonte: INE, Censos 2011 |
Quem tem consciência desta evolução, não pode aceitar que a precarização e o despedimento dos professores, o encerramento e concentração de escolas, o corte no financiamento, a dualização de vias ou o chamado cheque ensino sejam aplicados na leviandade da agenda política e ideológica do momento. Mas a irracionalidade do mediatismo tem um segundo efeito: oculta, reproduz e agrava uma escola cuja ligação às desigualdades sociais é ainda evidente.
Gráfico 2: Impacto da condição sócioeconómica na performence eduativa nos países da OCDE Fonte: OCDE, Equity and quality in education: supporting disavantage students and school |
Gráfico 3: Risco de insucesso escolar por status socioeconómico, qualificação dos pais, origem nacional e género Fonte: OCDE, Education at a Glance, 2012 |
Os dois gráficos a cima são meramente ilustrativos disso mesmo. Como se lê no gráfico 2, Portugal tem um sistema educativo que o situa no conjunto dos Estados em que o impacto da classe socioeconómica no desempenho escolar se encontra acima da média europeia e, apesar das evoluções em muitos indicadores, como se percebe no quadro 3, tem um risco elevado de insucesso escolar para os alunos de classes de status socioeconómico mais desfavorecidas. A evolução acelerada dos indicadores de educação nos últimos quase quarenta anos de democracia e a persistência da reprodução das desigualdades no sistema de ensino é acentuada em praticamente todos os estudos das ciências da educação e da sociologia sobre este assunto. Para os alunos, para os professores e para o país é um desastre que a agenda ideológica do momento permita pôr em causa décadas de evolução e conquistas e, sobretudo, que neutralize o debate que era preciso ser feito: como se melhora e democratiza a escola pública.
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