Este país não é para jovens. Uma frase simples mas
dura que parece uma inversão do título do filme dos irmãos Coen - No Country
for Old Men. Ou podia, por outro lado, ser simplesmente uma citação de qualquer
conversa de café sobre o país e o futuro. Mas não. Na verdade, estranhe-se, é
mesmo o título do mais recente livro de José Manuel Fernandes e Helena Matos.
Não é a primeira, nem vai ser a última vez, que se tenta legitimar uma
narrativa de poder hegemónico, a partir de ideias e expressões tendencialmente
combativas. As palavras, assim como as expressões, também são um palco de
lutas. Mas é só isso que José Manuel Fernandes tenta forçar: a partir da
constatação do desespero dos mais jovens tenta espremer a ferros uma teoria que
sirva fundamentalmente para nos fazer acreditar de que os direitos sociais são
a fonte, a raiz e o problema que coletivamente temos de evitar no futuro.
Os autores são inteligentes na análise. Ambos
sabem que a consciência da precariedade, do desemprego e da emigração forçada
nos mais jovens é uma realidade incontornável. Objetivamente os jovens vivem
pior e subjetivamente sabem que a situação em que vivem é injusta e tem de ser
transformada. Mas tendo a direita começado a perder hegemonia neste terreno e
vendo cada vez mais mobilizações de jovens nas ruas, o que tem tentado nestes
últimos tempos é construir narrativas que lhes permitam conseguir vencer na
derrota. É isso que este livro procura fazer. Parte da manifestação de 2 de
Março, em que se organizou um sector de reformados em torno da APRE –
Associação de Aposentados, Pensionistas Reformados – para alimentar uma
narrativa de “equidade geracional”, uma versão sofisticada e pomposa da
celebrada “ditadura dos direitos adquiridos” propagada entre moções da JSD,
intervenções parlamentares do PSD e do CSD e difundida na imprensa por um amplo
número de comentadores.
Perante a evidência do desespero dos jovens e
perante a destruição da economia, este livro propõe-nos que passemos a
legitimar a ideia de que a culpa da degradação das condições de vida foi termos
alimentado uma conceção de Estado que ultrapassava as nossas possibilidades
enquanto sociedade e enquanto economia. E vai mais longe propondo-nos
perigosamente que as políticas públicas atuais e futuras se orientem pela ideia
de que para salvar os jovens é preciso ceder nos direitos coletivos e numa
visão moderna de Estado-Social.
O livro vai ao ataque. Não há dúvidas sobre isso.
E de facto, ele já serviu para pelo menos colocar os autores em tudo o que era
comunicação social. Para além disso, ele foi também o mote para trazer de novo
Álvaro Santos Pereira a Portugal para pedir um acordo do Bloco Central para
destruir o país sob jurisdição do Tratado Orçamental.
É preciso irmos estando atentos. Geralmente a
hegemonia perde-se de forma mais acelerada do que se ganha.
Sem comentários:
Enviar um comentário