Em termos de ajustamento orçamental, retirando o peso dos juros da dívida pública, a Grécia fez uma maior e mais dura consolidação que Portugal, com resultados quantitativamente mais impressionantes.
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Em % do PIB. FMI |
Quanto aos desiquilíbrios comerciais (saldo entre exportações e importação de bens e serviços), o milagre português parece, afinal, não ser só mérito do ministro Pires de Lima. Tanto Portugal como a Grécia conseguiram passar de um défice da balança corrente para uma situação de saldo positivo. Podemos discutir se se deveu mais ao decréscimo das importações, ao aumento das exportações, ou a ambos, mas o 'suposto' desiquilíbrio desapareceu.
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Em % do PIB. FMI |
Momento 'no comments':
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Em % do PIB. FMI e cálculos próprios |
Até nos indicadores de produção industrial os dois países se assemelham. A exceção é o ano de 2010 quando Portugal consegue uma pequena recuperação do PIB, e a Grécia não (apesar da consolidação orçamental e da balança corrente).
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FMI |
Cá está. Em 2010 a situação de recessão na Grécia agravou-se enquanto, em Portugal, houve uma ligeira recuperação. Apesar disso também a Grécia tem vindo a aproximar-se mais da estagnação do que da recessão.
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FMI |
Tudo isto apesar de, entre 2008 e 2011, a Grécia ter liderado a tabela das "reformas estruturais" da OCDE, não tendo Portugal muito atrás. Ainda assim, perdemos no ranking (e bem sabemos como o governo gosta de rankings).
Conclusões? Algumas.
- Tanto Portugal como a Grécia conseguiram um saldo primário positivo, ou próximo disso, e uma balança corrente equilibrada. Apesar disso, a crise mantém-se. O sistema financeiro não está mais estável, a dívida (pública e externa) não parou de aumentar e o desemprego é absolutamente insustentável, assim como os níveis de pobreza.
- Portugal, o 'bom aluno', não tem indicadores assim tão diferentes da Grécia. Não parece ser o esforço de consolidação, a estrutura da nossa economia, ou o 'milagre' da balança comercial que nos distingue da Grécia, mas sim o nosso Estado Social. O Estado Social que está sob o mais violento ataque, acusado de ser uma das causas do despesismo público, é o mesmo que permitiu amortizar (ainda que parcialmente) os efeitos da austeridade, desenhada para o atingir.
- Podemos também falar sobre diferenças nos sistemas tributários, e como a Grécia tem dificuldade em aumentar a receita fiscal e cobrar impostos, sobretudo a quem mais ganha. Mas essa é a parte das reformas que o atual governo grego se propõe a levar a cabo, já que nenhum outro antes o fez. E também em Portugal temos a nossa história para contar sobre grande fuga ao fisco...
- Cinco anos da mais profunda austeridade e a pergunta mantém-se: o que fazemos coma dívida?
A existência do saldo primário abre a porta a uma oportunidade, mas não aquela que o governo imagina. Se desviarmos esse saldo do pagamento de juros (pela redução dos juros a 1%) para o reforço das políticas sociais e para o investimento produtivo, a economia cresce, o peso da dívida diminui, o emprego diminui, as prestações sociais - e as despesas públicas - diminuem, e nós começamos a sair do buraco. Duas coisas são precisas: 1. Congelar o valor absoluto da dívida 2. Financiar eventuais défices orçamentais no mercado interno. E é preciso outro governo que saiba fazer tudo isto, que é perfeitamente viável.
ResponderEliminarNuno Cardoso da Silva