31 março 2014

Este país não é para jovens?



Este país não é para jovens. Uma frase simples mas dura que parece uma inversão do título do filme dos irmãos Coen - No Country for Old Men. Ou podia, por outro lado, ser simplesmente uma citação de qualquer conversa de café sobre o país e o futuro. Mas não. Na verdade, estranhe-se, é mesmo o título do mais recente livro de José Manuel Fernandes e Helena Matos. Não é a primeira, nem vai ser a última vez, que se tenta legitimar uma narrativa de poder hegemónico, a partir de ideias e expressões tendencialmente combativas. As palavras, assim como as expressões, também são um palco de lutas. Mas é só isso que José Manuel Fernandes tenta forçar: a partir da constatação do desespero dos mais jovens tenta espremer a ferros uma teoria que sirva fundamentalmente para nos fazer acreditar de que os direitos sociais são a fonte, a raiz e o problema que coletivamente temos de evitar no futuro.




Os autores são inteligentes na análise. Ambos sabem que a consciência da precariedade, do desemprego e da emigração forçada nos mais jovens é uma realidade incontornável. Objetivamente os jovens vivem pior e subjetivamente sabem que a situação em que vivem é injusta e tem de ser transformada. Mas tendo a direita começado a perder hegemonia neste terreno e vendo cada vez mais mobilizações de jovens nas ruas, o que tem tentado nestes últimos tempos é construir narrativas que lhes permitam conseguir vencer na derrota. É isso que este livro procura fazer. Parte da manifestação de 2 de Março, em que se organizou um sector de reformados em torno da APRE – Associação de Aposentados, Pensionistas Reformados – para alimentar uma narrativa de “equidade geracional”, uma versão sofisticada e pomposa da celebrada “ditadura dos direitos adquiridos” propagada entre moções da JSD, intervenções parlamentares do PSD e do CSD e difundida na imprensa por um amplo número de comentadores.

Perante a evidência do desespero dos jovens e perante a destruição da economia, este livro propõe-nos que passemos a legitimar a ideia de que a culpa da degradação das condições de vida foi termos alimentado uma conceção de Estado que ultrapassava as nossas possibilidades enquanto sociedade e enquanto economia. E vai mais longe propondo-nos perigosamente que as políticas públicas atuais e futuras se orientem pela ideia de que para salvar os jovens é preciso ceder nos direitos coletivos e numa visão moderna de Estado-Social.

O livro vai ao ataque. Não há dúvidas sobre isso. E de facto, ele já serviu para pelo menos colocar os autores em tudo o que era comunicação social. Para além disso, ele foi também o mote para trazer de novo Álvaro Santos Pereira a Portugal para pedir um acordo do Bloco Central para destruir o país sob jurisdição do Tratado Orçamental.

É preciso irmos estando atentos. Geralmente a hegemonia perde-se de forma mais acelerada do que se ganha.

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