11 setembro 2014

o Super Mário chega para derrubar a deflação?

Um belo artigo de Eric Toussaint sobre as recentes medidas do Banco Central Europeu, tão elogiadas por esses jornais a fora. 


No dia seguinte a uma importante reunião do BCE, o quotidiano Le Monde desfazia-se em elogios ao presidente da instituição financeira sediada em Francoforte: «Mario Draghi deu provas, mais uma vez, na quinta-feira, 5 de julho, da mestria com que dirige o Banco Central Europeu. Mais do que nunca, o italiano mostra-se à altura dos acontecimentos: o homem certo, no lugar certo» |3|. O Financial Times e a generalidade da imprensa dominante peroram no mesmo sentido. Os mercados financeiros reagiram muito positivamente, as bolsas fremiram de contentamento.

Mario Draghi
De 1991 a 2001, Mario Draghi foi director-geral do Ministério do Tesouro italiano, encarregue das privatizações. Graças a esse cargo, foi membro do conselho de administração de vários bancos e sociedades, que estavam em vias de serem transferidos para o sector privado (Eni, IRI, Banca Nazionale del Lavoro-BNL e IMI). A seguir, de 2002 a 2005, Mario Draghi foi vice-presidente do ramo europeu do banco americano de investimento Goldman Sachs. É nessa mesma época que o Goldman Sachs é pago pelas autoridades gregas para maquilhar as contas públicas. A 16 de janeiro de 2006, o presidente do Conselho, Silvio Berlusconi, nomeia Mario Draghi governador do banco central italiano, com um mandato renovável de seis anos. Em 1 de novembro de 2011, Mario Draghi chega à presidência do BCE.




Uma coisa é certa: as decisões tomadas pelo BCE não vão melhorar a situação económica, não vão permitir gerar mais emprego, nem melhorar as condições de vida da população da Zona Euro. O rumo do BCE mantém-se firme: apoio total aos grandes bancos e ao patronato, contra a esmagadora maioria da população
Quais as medidas anunciadas pelo BCE em 4 de setembro de 2014?
Fixar em 0,05 % a taxa de juro paga pelos bancos para pedir empréstimos ao BCE
O BCE decidiu mais uma vez baixar as taxas de juro a que empresta dinheiro aos bancos privados. É a décima sexta alteração de taxa desde outubro de 2008. A taxa de juro foi baixando gradualmente de 3,75 % em outubro-2008, para 0,15 % a partir de 11-junho-2014, e finalmente 0,05 % a partir de 10-setembro-2014 |4|. É uma beleza para os bancos privados, que por sua vez emprestam dinheiro aos Estados a taxas que variam entre 1,40 % (caso da Alemanha em fins de junho de 2014) e 6,00 %, no caso da Grécia |5|… Oficialmente, a baixa da taxa de juro deveria encorajar os bancos a emprestarem mais às empresas – em particular às pequenas e médias empresas (PME), que constituem na Europa os maiores empregadores, e aos consumidores privados. Mas, a final de contas, conclui-se que os bancos preferem emprestar aos Estados: é mais seguro. Comprar títulos da dívida soberana permite-lhes alcançar mais facilmente o rácio imposto pelas autoridades fiscalizadoras da banca no que respeita ao capital mínimo requerido em relação ao balanço total (ou ao total dos activos?) |6|.

09 setembro 2014

Uma análise e uma crítica séria a Thomas Piketty


Gonçalo Pessa, jovem economista e antigo escriba deste blog, agarrou-se à mais recente obra de Thomas Piketty, O Capital no Século XXI, e desenvolveu uma análise crítica e rigorosa sobre algumas das potencialidades e os limites da obra. Ao contrário da maioria dos países ocidentais, em Portugal a obra tem alimentado pouco debate. Apesar disso destacam-se entre outras, as análises polémicas de João ConstâncioVítor Gaspar, João Carlos EspadaFrancisco LouçãNuno Teles e do bom trabalho de Sérgio Anibal no Público. No texto que aqui reproduzo, Gonçalo Pessa vai ao debate sobre as respostas a três questões fundamentais: como é este livro nos ajuda a pensar as desigualdades que assolam o mundo; como é que a história política e económica do capitalismo moderno está profundamente enraizada no problema da desigualdade de produção e distribuição de recursos; e, por fim, como é que do ponto de vista estratégico se responde politicamente a uma economia absorvida por uma elite que se alimenta das desigualdades a nível global. 

O que há de novo em Thomas Piketty? Por Gonçalo Pessa