22 maio 2015

Eles tiveram o Catroga, nós temos o Silveira

(consultor da MLGTS advogados)

Depois de Eduardo Catroga, do alto dos seus 700 mil euros anuais na EDP, se ter rebelado contra o partido-mãe, mesmo sendo o responsável pelo seu programa eleitoral, António Costa resgatou João Tiago Silveira para a mesma função no PS. Desde que abandonou a função de porta-voz no governo de José Sócrates, Silveira retomou a sua função de consultor no escritório de advogados de Morais Leitão, Galvão Teles e Soares da Silva, por onde já passaram Assunção Cristas e Paulo Núncio. 

Acontece que foi precisamente esta sociedade que prestou assessoria à Parpública no processo de privatização da EDP, selada e comandada por Catroga. Por estas e por outras, Manuela Ferreira Leite defendeu uma maioria qualificada no parlamento no que diz respeito às privatizações, porque isto do PSD ter defendido, nos últimos quatro anos, 11 privatizações de empresas públicas e o PS apenas 9 pode ser uma grande chatice.

Do currículo de Tiago Silveira, nestes anos de interregno, fica ainda uma consultadoria intensa no processo de venda do sector de saúde da CGD, o grupo HPP aos brasileiros da AMIL. O administrador do grupo, responsável pela gestão do hospital de cascais, já assumiu entretanto, que o valor foi subavaliado por parte da CGD,    

E isto ainda mal começou. 


18 maio 2015

Desigualdades na Europa: cinco problemas do problema europeu


A crise e a centralidade das desigualdades no século XXI

Haverá desde o século XIX poucos assuntos tão relevantes e tão estudados na generalidade das ciências sociais como seja o assunto das desigualdades sociais. E ainda assim, quando olhamos hoje para a realidade e para os dados, não haverá questão mais central na Europa e no mundo. Na verdade, o debate que hoje se trava na Europa sobre o futuro do Estado-social está irredutivelmente ligado à questão das desigualdades, porque quer os serviços públicos, quer o Estado-social, foram erguidos no quadro de um conflito social permanente contra o que Charles Tilly (2005) muito bem apelidou de “mecanismos sociais explicativos das desigualdades”, isto é, os “mecanismos da exploração”, os “mecanismos de fechamento de oportunidades” e os “mecanismos de seleção-distribuição”.

Na segunda metade do século XX, depois de décadas de guerras, crises e experiências autocráticas, a Europa tornou-se um espaço onde no quadro da relação de forças daquela época histórica, foi possível construir uma nova ideia de democracia política e uma moderna conceção de Estado-social. Ambos só puderam ser concretizados no quadro do aumento da escolarização, da mobilidade social, do crescimento económico e do esbatimento das desigualdades. Mas eles também só podem ser explicados à luz da relação de forças entre capital e trabalho, no quadro de organizações sindicais fortes e representativas, conflitos laborais intensos, revoluções culturais, sociais e filosóficas de grande alcance, novos movimentos sociais e culturais e uma dinâmica de mobilização geral que permitiu avanços económicos, sociais e laborais sem precedentes.

Contudo, desde os anos 80 que com o ciclo de Margaret Tatcher no Reino Unido e Ronald Reagan nos EUA, a Europa e o mundo vivem um momento de viragem política. Foi nesse momento que, acompanhado com o desmoronamento do chamado “socialismo real”, Fukuyama (1992), excitado com o ritmo dos acontecimentos, se apressou a anunciar que tínhamos chegado ao “fim da história”, enquanto também nos anos 90 outros vaticinavam o “fim do trabalho” (G. Aznar, K. Eder, A. Gorz), o “fim das classes” (Clark, Lipset, R. Aron, Lautman, Pakulski, M. Waters) ou a chegada à “era do vazio” (Lipovetsky).

Hoje, passadas mais de duas décadas e em plena crise capitalista, o argumento do “fim da história” é ao mesmo tempo pouco credível e estranhamente forte no senso comum, pelo simples facto de que não se desenha no horizonte, para a maioria das pessoas, uma alternativa credível ao modo de produção capitalista. Contudo, não há otimismo hoje na elite financeira, económica e política que não embata de frente com a dureza dos mais recentes dados sobre as brutais desigualdades que se aprofundam nas nossas sociedades e que nos têm feito regredir várias décadas.