03 julho 2015

“Vamos fazer estágios até sermos velhinhos?”: os efeitos da austeridade na política de emprego.


[artigo publicado na Vírus, nº7]

Comecemos pela Sofia e os episódios recentes da sua vida. Aos 26 anos, depois de realizar um estágio curricular de nove meses num centro de acolhimento para menores, obrigatório para terminar a sua licenciatura em psicologia, enfrentou um ano de desemprego. Durante esse período trabalhou, quando teve oportunidade, como recepcionista num hostel, paga a falsos recibos verdes, e como animadora turística nos bares da baixa do Porto, recebendo em numerário, sem recibo ou qualquer tipo de proteção. Em vez de pipocas, como ditava a receita de Miguel Gonçalves, tentou vender refrescos e bolos numa feira local, alcançando por resultado um fracasso épico: os trocos amealhados não chegavam para as despesas. Concentrou-se, à falta de melhor, no último ano do seu mestrado, pago com a ajuda dos pais.

Perante nova oportunidade de emprego na sua área, aceitou um confuso convite para trabalhar numa clínica psiquiátrica. Ao fim de uma semana, disseram-lhe que seria, não uma profissional como as outras, mas uma estagiária, contratada através da medida de estágios emprego do IEFP, de qual já tinha ouvido falar, com uma remuneração de 691 euros, superior, apesar de tudo, ao que ganhava nas noites mal dormidas da movida portuense. Sofia ganharia o seu primeiro salário depois de quatro meses de trabalho gratuito. O período de aprovação do estágio por parte do IEFP esticou-se em adiamentos consecutivos, tempo durante o qual a Sofia continuou a cumprir as suas funções na clínica, que lhe pagou apenas as viagens diárias para o emprego.

01 julho 2015

OXI


"Incontáveis são os prodígios, mas nenhum mais prodigioso que o homem; o poder que transpõe o mar de espumas, batido pelo tempestuoso vento sul, ao abrir uma senda sob as ondas que ameaçam tragá-lo; e a fala, o pensamento ligeiro como o vento e os ânimos diversos para modelar um estado que ele ensinou a si mesmo; como escapar das flechas da geada, quando é difícil se abrigar sob o céu claro, e das flechas da chuva que se precipita; sim, ele tem meios para tudo"

Sóflacles, Antígona
  

30 junho 2015

O que a União Europeia tem que ver com isto?

Na semana de todas as decisões, cujos resultados definirão todo o debate à esquerda pelos próximos anos, vale a pena resgatar os dados do Eurobarómetro (2014). Perceber o país que somos é o primeiro passo para mobilizar a gente que temos:


1.A austeridade é marca e a imagem da UE. Na era dos burocratas, o discurso da "integração" perdeu o seu fulgor. 



2. A percepção da responsabilidade europeia pelos cortes e o empobrecimento é maioritária em todas as categorias, menos entre as "domésticas". Mas é mais significativa entre os trabalhadores manuais; os cidadãos entre os 25 e 39 anos; os que possuem escolarização intermédia; os habitantes das zonas rurais.





3. A maioria da população não confia nas instituições europeias.