Apresento-me com brevidade. Escrevo sobre questões que me importam. Não costumo escrevinhar parvoíces panfletárias, não tenho paciência para partidologias e tendo a ser livresco, coisa que considero ser uma virtude. Sou historiador de ofício e estado de espírito. Fora isto, não tenho muito mais a declarar.
Começo por Gaza. Tal como diz José Manuel Fernandes, e bem, a "difícil questão de Israel e de Gaza"* é, demasiadas vezes, abordada de forma parcial e redutora. O problema é que, ao longo do espectro de posturas a respeito de um conflito bastante menos importante que outros, como os conflitos regionais no continente africano ou a situação do subcontinente indiano, tendemos a confundir posições parciais e redutoras com posições emanadas de pontos de partida ideológicos. No entanto, não há qualquer isomorfismo entre elas. Uma posição ideológica - isto é, baseada em convicções firmes e justificadas - não pode, é óbvio, ser imparcial. Mas pode evitar uma visão redutora. De facto, aquilo que me parece ser mais evidente, a respeito da "questão de Israel e Gaza" (uma formulação que não faz grande sentido, aliás), é isto: as posições ditas imparciais e não-redutoras, que procuram uma neutralidade grosseira, enfermam de um problema: impedem a procura e determinação de soluções. O texto de José Manuel Fernandes mostra-o bem: pode tentar atingir um ponto razoável de equilíbrio, assumindo que Israel tem direito a existir (e tem-no, na minha opinião) e que o Hamas não é igual à Fatah (não é, realmente), depende do apoio da Síria, da Turquia, de algumas facções egípicias e de algumas formações políticas do Golfo, além de arriscar vidas civis. Mas não consegue incorporar, no argumentário, a legitimidade da opressão económica à população de Gaza. E não consegue descortinar a responsabilidade de Israel na permanência do Hamas. Ou na perda de importância da Fatah na correlação de forças do governo do destino colectivo palestiniano.