19 abril 2014

Crise, boom extrativista e a nova corrida ao ouro



2002 marcou o início do boom mineiro mais largo do período do pós-guerra (2003-2012), em estreita relação com a subida do preço das matérias primas no mercado internacional. Depois de uma quebra em 2009 por efeito da crise financeira, as rendas extrativistas subiram em flecha. Elevada procura em países como a China e Índia e crescente especulação financeira são algumas das causas da subida do preço, alimentando a aquisição de largas áreas com potencial mineiro (cada vez mais escassas) ou a intensificação das minas atuais (com retornos cada vez mais decrescentes). O que antes não era atraente, agora é visto como uma oportunidade. 

18 abril 2014

António Barreto e o crime social do “cabrito com batatas”



A crise tem sido fértil na produção de frases feitas e da atualização enriquecedora do senso comum. A formulação extremamente simplificada de conceitos e noções gerais sobre a vida em sociedade, em todos os seus campos, mas principalmente no tocante à crise económica e aos seus fundamentos atingiu, nestes últimos anos, o seu auge. 

Loucura e Holocausto no maior Hospício do Brasil



"Holocausto Brasileiro: Vida, Genocídio e 60 mil mortes no maior Hospício do Brasil" de Daniela Arbex está em destaque em algumas livrarias em Portugal. E ainda bem. A jovem e premiada jornalista brasileira foi levantar a história esquecida de um hospício em Barcarena, construído em 1903 e onde morreram 60 mil pessoas. Um lugar inóspito, desumanizado e de barbárie para onde durante anos foram enviados epiléticos, alcoólicos, homossexuais, prostitutas, jovens raparigas violadas pelos patrões, esposas de quem os maridos se queriam ver livres e filhas de fazendeiros que perderam a virgindade antes de casarem.

Neste hospício, os 5 mil “pacientes” que em média lá viviam (num lugar projetado para 200 pessoas…), andavam nus, de cabeças rapadas, sem objetos pessoais e desempossados de qualquer identidade individual. Vivam uma identidade absolutamente institucionalizada, acompanhada de condições de vida miseráveis, desde logo dormindo no chão ou sobre capim, bebendo água de esgoto ou urina, comendo ratos, passando fome e tendo condições de higiene sub-humanas.

Wadjda: quando uma bicicleta é o mundo


O Sonho de Wadjda (2012) conta-nos a história de uma miúda que desafia o conservadorismo e o machismo da sociedade saudita, usando ténis, tendo como melhor amigo um rapaz e desejando uma bicicleta. Uma personagem improvável? Um filme rodado inteiramente em território saudita e realizado por uma mulher também deveria ser impossível. Mas «a Arábia Saudita está a mudar», diz Haifaa al Mansour. Pois que mude, radicalmente.

16 abril 2014

Na investigação científica "a precariedade é a regra"


O inquérito realizado pela Associação de Combate à Precariedade - Precários Inflexíveis traz à luz a verdade sobre o risco que corre o frágil edifício da Ciência em Portugal: "a grande maioria dos investigadores são eternos bolseiros, dificilmente têm acesso a um contrato de trabalho e, perante a sua condição precária, pretendem emigrar".

Os números do falhanço da guerra às drogas no Afeganistão


A Economist desta semana chama a atenção para o testemunho de John Sopko, o Inspetor Geral para a Reconstrução do Afeganistão, acerca do resultado das operações de erradicação das plantações de ópio: 10 mil milhões de dólares desperdiçados dão o título à notícia.

Nomeado em 2012 por Obama, o papel de John Sopko é o de verificar se os 100 mil milhões de dólares gastos desde 2002 pelos contribuintes norte-americanos na "reconstrução" do Afeganistão ocupado estão a ser utilizados para os fins a que se destinavam, tarefa que o tornou uma figura impopular junto do Pentágono e da USAID, que distribuem boa parte daquelas verbas. Não admira, pois Sopko foi taxativo: um décimo desse dinheiro foi deitado ao lixo.

13 abril 2014

Cultura de “excelência” de Durão Barroso é ter 25.7% da população analfabeta

Durão Barroso veio ontem a público numa sessão em Lisboa afirmar que "No Portugal não democrático, no Portugal pré-União Europeia e pré-Comunidade Europeia havia ensino de excelência apesar do regime político em que se vivia e isso era possível porque numa escola era desejável reforçar a própria cultura de excelência da escola. Não estou seguro que aconteça hoje o mesmo em muitas escolas portuguesas e europeias" (artigo completo aqui).

Vejamos como era o ensino de “excelência” que Durão Barroso defende. Em 1970 a escolaridade obrigatória era de seis anos, os professores primários tinham uma preparação que lhes permitia ensinar a ler, escrever e contar e pouco mais (Candeias Martins, 2008[1]). Os professores vivam sob vigilância e controlo constante por parte das autoridades (Candeias Martins, 2008) porque, no ensino de “excelência” defendido por Durão Barroso, as escolas eram a “sagrada oficina das almas” onde a exaltação do orgulho nacionalista era a principal matéria, horizontal a todas as disciplinas.