19 dezembro 2014

TAP: voar em segurança ou reduzir os custos?



No processo de assalto à TAP, Pires de Lima tem montado uma irresponsável campanha contra os trabalhadores, principalmente contra os pilotos. É preciso lembrar que logo após falhar a entrega da TAP ao obscuro Germán Efromovich, o Governo de pronto pressionou os pilotos da companhia a aceitar um corte nos salários, sob o inevitável argumento da redução de custos.

Essa pressão não é nova, desde 2010 o Diário Económico desfia editoriais e colunas de opinião contra os salários luxuosos na TAP. O ataque sobre os pilotos comerciais tem acontecido, de resto, um pouco por toda a Europa, com a receita austeritária a exigir a entrega de todos os sectores de transporte aos privados; um serviço coletivo e que traz benefícios reais à economia que vão para lá dos balanços comerciais de cada entidade.  Mas quais os efeitos reais deste ataque nas condições como se realizam as viagens aéreas?

O enorme avanço tecnológico da aviação mundial nas últimas décadas e a redução de acidentes aéreos permite-nos encarar as viagens áreas com um sentimento de grande segurança e confiança. Acontece que entre pilotar um avião de 77 toneladas e fazer o ponto de embreagem num Renault Clio vai uma distância muito grande. O debate que se gerou em França depois do desastre do Voo da Air France 447, que se despenhou no atlântico em 2009, diz-nos muito sobre os efeitos de uma nova organização pensada a partir da redução de custos e da desvalorização do papel dos pilotos.

17 dezembro 2014

A mentira de Passos: apenas 33% dos estagiários encontram emprego



Quem lê estas linhas e nos últimos três anos procurou um emprego sabe bem do que falo."Dinamismo e capacidade de iniciativa", "capacidade de organização e gestão do tempo", "grande sentido de responsabilidade", "fluência em inglês e francês", todos os requisitos e exigências de um trabalho que recebe em troca um inevitável: "Estágio profissional (IEFP) com possibilidade de integração no quadro efetivo mediante avaliação positiva". Esta é a realidade cada vez mais frequente com que se deparam os desempregados e trabalhadores precários em Portugal.

Passos Coelho, numa intensa semana de pré-campanha eleitoral, congratulou-se por 70% dos estágios resultarem num contrato de trabalho. A maioria dos estagiários, no entanto, conhece bem a instabilidade por que passa nos escassos meses de estágio e a incógnita do fim que se aproxima. Onde mora a razão neste conflito?

É mesmo o mexilhão que paga.

A ideia de que o estágio é um favor prestado pelas empresas a jovens sem experiência laboral é o primeiro erro de entendimento. Em primeiro lugar porque há um equilíbrio quase perfeito entre os trabalhadores mais velhos (acima dos 25 anos) e os mais novos (abaixo dos 25 anos) na ocupação dos estágios: 30 699 e 30 834 respectivamente (IEFP, dados acumulados de 2014), o que aponta para um acumular de experiência profissional pré-estágio significativo.

Depois, e não menos importante, porque o conhecimento técnico e as formas de organização da produção não são um monopólio ao dispor dos patrões. Na história, é imenso o conhecimento acumulado por aqueles que asseguram de facto a produção, desde o trabalho industrial manual à criação do software informático até às inovações materiais produzidas pela investigação dos trabalhadores científicos; é na fragmentação e apropriação desse saber por grupos empresariais cada vez mais concentrados que reside a dificuldade das últimas décadas. Fazer com que o trabalhador acredite na impossibilidade da partilha do conhecimento como um bem coletivo, submetendo-o a uma relação de súplica salarial, será, por ventura, uma das maiores derrotas que hoje enfrentamos como classe que vive do trabalho.

PARABÉNS NUNO CRATO | NUNCA ESTIVEMOS TÃO MAL NA EDUCAÇÃO E NA CIÊNCIA


Na manhã desta quarta-feira, Nuno Crato discursava no ISEG, numa conferência sobre Inovação e Ciência, quando foi interrompido por estudantes e investigadores que lhe queriam dar os Parabéns, pois «nunca estivemos tão mal na Ciência e na Educação».

Vídeo aqui.

Comunicado divulgado na acção:

PARABÉNS NUNO CRATO | NUNCA ESTIVEMOS TÃO MAL NA EDUCAÇÃO E NA CIÊNCIA

O Horizonte 2020 é o Programa-Quadro comunitário destinado ao apoio da investigação e da inovação entre 2014-2020. Escrito no contexto da crise económica e claramente influenciado pela agenda política neoliberal, de tom eurocêntrico, este programa apoia-se nos argumentos dos programas de austeridade e no aumento da eficiência e da competitividade para justificar uma substancial reorientação de fundos para o plano tecnológico e uma preocupante e perigosa desvalorização quer da investigação fundamental, quer da curiosity driven research!

Cumpre denunciar que a concretização do Horizonte 2020 agravará a já em curso reconfiguração do sistema público de ensino e investigação científica. O interesse é produzir bens negociáveis para ganho financeiro e não pensamento ou conhecimento. Além disso, o critério nubloso da “excelência”, que preside a qualquer avaliação, servirá para escapar a soluções distributivas e sustentáveis e exponenciará a elitização quer da investigação, quer do ensino.