22 fevereiro 2014

Falta de água pode atingir os 80% na Europa do Sul


No passado mês de Janeiro foi publicado um estudo que modela os possíveis impactos das alterações climáticas sobre os recursos hídricos. Para um cenário de um aumento médio da temperatura global em 3,4ºC até 2100, em relação ao período entre 1961-1990, os resultados mostram que a Europa do Sul será a zona mais afetada. Na Península Ibérica, sul de França, Itália e Balcãs, os caudais podem ser reduzidos em 40% e os períodos de déficit hídrico podem atingir os 80%. Estes efeitos serão exacerbados por efeito do crescimento populacional e o aumento do uso de água para a agricultura e industria.

Mediterrâneo: quando uma bala de borracha é um atentado aos Direitos Humanos


6 de fevereiro. 250 imigrantes de vários países da África subsariana já só tinham de nadar 30 metros para chegar ao Eldorado: Ceuta. Lançaram-se ao mar 150 e até tinham coletes salva-vidas. Para que não chegassem a terra a Guardia Civil espanhola começou a disparar balas de borracha e gás lacrimogéneo contra as pessoas. 15 pessoas morreram. Apesar dos relatos de centenas de pessoas, o Governo e a Guardia Civil negaram que a intervenção da polícia tivesse usado estes meios e lançaram vídeos para provar a “agressividade dos imigrantes”. Só dias depois o ministro do Interior foi obrigado a assumir no Parlamento o uso de balas de borracha.


Se em outubro os responsáveis políticos se manifestaram escandalizados com a morte de 300 pessoas ao largo de Lampedusa e com os maus tratos nos centros de detenção de imigrantes, a verdade é que passados cinco meses vemos que nada mudou. Cecilia Malmström - comissária europeia do interior, que foi vaiada em Lampedusa com Durão Barroso e o primeiro-ministro italiano – vem agora dizer que a Comissão Europeia “como guardiã dos tratados” irá atuar contra Espanha, caso se verifique que o país “violou a lei europeia”.

21 fevereiro 2014

Filhos do rock, da liberdade e da subversão


Estreou há semanas uma nova série da RTP chamada “Os Filhos do Rock”. Não sou de ver séries, é raro conseguir acompanhar alguma, mas era insensato não acompanhar esta. Não apenas pelo elenco de luxo com alguns dos melhores atores da nova geração, mas porque lembra uma década de enorme turbulência criativa, de indomável inquietação nos espíritos e de transformação acelerada de práticas, nos gostos e nos modos de vida. Foi uma década em que a liberdade não pediu autorização a ninguém. É a década de ouro do rock português. E mesmo que eu só tenha nascido no início da década seguinte, tenho dos anos 80 referências tão imprescindíveis como a origem de um rock livre, ácido e acelerado ou a liberdade de uma geração que, sem autorizações dos pais, ocupou o Rock Rendez Vous e fez nascer anos subversivos e sem amarras. Foi a década onde uma geração enterrou culturalmente e com imensa intensidade a herança incrustada de quase cinquenta anos de servidão no trabalho e de contenção nas almas.

20 fevereiro 2014

Banif, lavandaria da ditadura Obiang

Para o presidente do Banif, a entrada da Guiné Equatorial no capital do banco, seria um “reencontro com a História de Portugal”. Na verdade, é um reencontro com Luís Amado, atual chairman do banco e ex-ministro dos negócios estrangeiros apoiante do regime de Obiang. O ditador é um pária internacional e o seu filho tem mandato de captura em Portugal.

Nos últimos 15 anos, a Guiné Equatorial deixou de ser apenas um dos últimos países da lista de desenvolvimento humano para se tornar no “Koweit africano”, com relações comerciais com todas as grandes potências, chegando a terceiro produtor de petróleo e gás no continente, atrás da Nigéria e de Angola. Isso não mudou a estrutura social do país, que continua afundado na pobreza endémica e com uma esperança média de vida de 51 anos. O círculo do poder concentra a acumulação da renda petrolífera, inspirado no regime de Angola que é, desde a queda de Khadafi, o seu principal parceiro político internacional.

Portugal não é um país pequeno: Cavaco, Cristas e Crato repescam ideia do fascismo

Cavaco Silva, Nuno Crato e Assunção Cristas, juntaram-se ontem para inaugurar um novo mapa de Portugal que estará disponível ainda este ano em todas as escolas. Chama-se "Portugal é mar" para que os jovens - nas palavras do Presidente da República - compreendam que "Portugal é enorme" e com "enormes potencialidades". 


Esta iniciativa do Governo, com o apoio do Presidente da República, faz bem lembrar outra do Secretariado da Propaganda Nacional do Estado Novo, o famoso mapa "Portugal não é um país pequeno" em que se comparava a superfície do "Império Colonial Português" com os principais países da Europa, chegando à conclusão que Portugal tinha uma área superior à de Espanha, França, Inglaterra Itália e Alemanha somadas. Este mapa, organizado por Henrique Galvão e divulgado a partir de 1934 na Exposição Colonial do Porto, era o símbolo da grandeza do país e do Estado Novo.

Se não deu por isso, eles andam por aí: o Black Rock no Espírito Santo


A notícia é discreta: o Black Rock tornou-se o quarto maior accionista do BES. A gestora de participações do grupo é o primeiro accionista (35,3%), o Crédit Agricole, velho aliado, é o segundo (10,8%), a Silchester International Inverstors é o terceiro (5,7%) e logo depois vem o Black Rock. A PT tem 2,1%. Foi uma compra rápida: em outubro de 2013 comprou 2%, agora reforçou a sua posição para 5,12%.

O Black Rock não é um banco, é muito mais do que um banco. Administra directamente 4 triliões de dólares de ativos, mais 11 triliões através da sua plataforma, Aladdin. Ou seja, dirige 7% de todos os ativos financeiros mundiais. É o maior accionista de metade das 30 maiores empresas do mundo, como se regista na listagem que segue.

19 fevereiro 2014

Ainda a cultura de direita em Portugal

Voltando ao post no blogue Malomil (aqui) sobre a emergência da cultura de direita em Portugal (ver aqui a primeira investida), importa salientar a ideia, a meu ver correta, de uma diversidade interna deste bloco político-ideológico. Na verdade, as concepções auto e hetero proclamatórias a respeito da direita omitem, por uma economia de discurso, geralmente associada ao médium (não há tempo, em termos de mass media, para escalpelizar o conceito ou procurar as suas dimensões constitutivas), a pluralidade de discursos e práticas. Até porque o seu potencial pragmático de união política é historicamente conhecido. Ainda assim, importa reconher três grandes fraçôes.

[PUB] Cidades rebeldes: as manifestações de junho no Brasil


20 de Fev. Coimbra::FEUC na sala Keynes às 11h.

«As chamadas "Jornadas de Junho" que aconteceram no Brasil em 2013 modificaram profundamente a conjuntura política do país. De um aparente estado de desmobilização dos movimentos sociais e de satisfação popular com os diferentes governos, passamos subitamente à maior mobilização popular da história brasileira: segundo os institutos de pesquisa de opinião pública, aproximadamente 7 milhões de pessoas saíram às ruas durante os meses de junho e de julho a fim de exigir mais e melhores serviços públicos de educação e saúde, além de investimentos em mobilidade urbana. As várias interpretações surgidas no debate acadêmico tenderam, até o momento, a subestimar a relação conflituosa entre o atual regime de acumulação financeirizado e o modo de regulação dos conflitos sociais criado pelos sucessivos governos do Partido dos Trabalhadores, concentrando-se em analisar a revolta contra a corrupção ou enfocar as demandas por mais democracia. Em nossa apresentação, argumentaremos que as Jornadas de Junho alimentaram-se das contradições criadas e ampliadas pelo atual modelo de desenvolvimento pós-fordista e semiperiférico, assim como da desaceleração econômica experimentada pelo país após 2010»

Especulações sobre investimento europeu no regadio público e no Alqueva

Foi esta semana que saiu mais uma notícia especulando sobre a vinda de investidores estrangeiros, da Alemanha, Áustria, França, Brasil e Estados Unidos, para investir no Alqueva. Há cerca de um ano atrás eram os franceses e os japoneses que estariam a chegar para finalmente utilizar a água da barragem e "pôr o Alentejo a produzir". Esta é uma história que vem de trás, mas que sempre trouxe água no bico, se bem que essa água é, há muito tempo, água de má qualidade.
Isto não é um campo onde nevou. É um campo irrigado com água com excesso de sal.

Serviço Público mostra Lampedusa

No momento em que se vai discutindo o futuro da RTP, vale a pena lembrar que ainda existe um serviço público de excelente qualidade que é fundamental para a democracia. É disso que trata esta reportagem da jornalista Rita Ramos: da qualidade do serviço público e do afogamento da democracia em Lampedusa. Dificilmente esta reportagem existiria, se não existisse um serviço público de televisão com pluralismo e qualidade. Vale mesmo a pena ver.



18 fevereiro 2014

Vender ilusões

Que a situação no Ensino Superior é grave já ninguém consegue negar. Portugal tem das propinas mais caras de Europa. No 1º ciclo já ultrapassam em muito os mil euros e no 2º ciclo, por não terem um teto máximo, podem chegar a 37 mil euros (pós graduação no ISCTE). Temos milhares de estudantes sem acesso à ação social direta (bolsas de estudo) e indireta (cantinas, residências etc.). E temos uma geração de estudantes que recorre a empréstimos bancários para conseguir continuar a estudar. Saem das universidades com um diploma numa mão e uma dívida à banca na outra. Perante os números do abandono escolar e das cada vez menores expectativas dos jovens sobre o ensino superior, representantes dos Reitores, Associações de Estudantes e do Governo vão criar o programa “Retomar”. A ideia é conseguir que os estudantes que abandonaram o Ensino Superior consigam ter recursos para voltar. A ideia é boa e louvável, só tem um problema: não vai resolver nada!

17 fevereiro 2014

Uma velha ideia nova: uma moeda para substituir as moedas, o bitcoin

Se já ouviu falar do bitcoin, então já sabe tudo. A promessa de uma nova moeda criada pelos próprios utilizadores, sem banco central, parece um manifesto libertário e entusiasma os fanáticos do mercado. Parece que tem o melhor de todos os mundos: o seu valor pode crescer depressa, e os investidores chineses acotovelam-se à porta; não reconhece nenhuma autoridade, e todos participam na formação do programa de software encriptado em chave aberta, num modelo que mobiliza mais capacidade computacional do que a resultaria da combinação dos quinhentos computadores mais rápidos do mundo. Os pagamentos fazem-se sem custos. O que é que quer mais?