11 agosto 2014

Uma sociedade dilacerada pela injustiça

Esta tabela, embora simples no alcance, oferece-nos material para uma análise suficientemente rica daquele que será, porventura, o maior flagelo que atravessa a sociedade portuguesa: a desigualdade.


Uma interpretação que certamente muitas pessoas farão é a de que “afinal, os ricos pagam muito mais impostos”. Certamente que “cada rico” paga muito mais impostos sobre o rendimento em valor absoluto, ainda pior estaríamos se assim não fosse. E, em termos relativos, regra geral também pagam efetivamente mais, dado que as taxas de imposto são supostamente progressivas (porém, como irei desenvolver daqui a pouco, talvez não tanto como possa parecer à primeira vista, e talvez em certas faixas sejam mesmo regressivas em vez de progressivas). Convém igualmente não esquecer que rendimento e riqueza estão ligados, mas são conceitos distintos.

Escuridão visível



O lixo não tem que dormir na rua, mas as pessoas podem dormir por lá. É isso, não é?  Percebemos que uma sociedade complexa está em colapso através destas coisas.

Quando um homem, mirrado pelos anos, pelo sol endurecido, pelo álcool e pelo pugilismo da realidade (o KO deve ter ocorrido por volta dos trinta anos, penso eu, ao observá-lo e ouvi-lo), entra numa tasca, em Sapadores, pressinto esse colapso. Porque cheira a vida perdida e tresanda a solidão. E porque só procura uma torneira para encher uma garrafa vazia, etiqueta do Luso encardida e meio rasgada. Entra na tasca. Murmura "bom dia" com um sotaque beirão, que, descubro daí a minutos, ganhou em Viseu. Empunha garrafa de água e procura o olhar de quem se afadiga a servir almoços. Pode ser que tenha sorte. Pode ser que tenha a mesma sorte dos detentores de dívida sénior do BES.