08 fevereiro 2014

Como as cidades respiram

Um artigo publicado há dias na revista MIT Technology Review (Boston, EUA) apresenta as primeiras conclusões de um estudo sobre 31 cidades espanholas com mais de duzentos mil habitantes. O que se pretendia saber era como se comunica nessas cidades, registando os horários das chamadas de telemóvel. Os resultados para seis dessas cidades estão no gráfico.

Como se verifica, há em geral dois picos de chamadas. Durante a semana, às 12h e às 18h; no fim de semana, às 13h e às 20h (nas cidades do sul, Sevilha e Córdoba, é uma hora mais tarde). Estes dados foram compilados por Thomas Louail, do Instituto de Física Teórica de Paris, e revelam os padrões uniformes de comportamento social. Este método de tratamento de grandes bases de dados revela uma geografia e antropologia urbana que promete ser um método interessante de investigação sobre as nossas sociedades.

07 fevereiro 2014

O futuro do emprego: a tecnologia vai acabar com o trabalho?



Em posts anteriores, o Inflexão quantificou os números reais do desemprego em Portugal (em sentido lato, são 26% da população em idade de trabalhar, se incluirmos os subempregados, os desencorajados disponíveis e indisponíveis). A identificação do problema está feita: esta conjugação de desemprego estrutural com emigração crescente e com transferência de rendimentos do trabalho para o capital foi por exemplo recapitulada no recente relatório da Iniciativa para uma Auditoria Cidadã à Dívida.

Neste post trato do mesmo tema do ponto de vista do futuro: o que é que vai acontecer ao emprego com o desenvolvimento de novas aplicações tecnológicas? Em estudos recentes, 47% dos empregos nos EUA são considerados sob ameaça de extinção por substituição tecnológica. E em Portugal?

06 fevereiro 2014

Quem decide o que lemos?


A morte de André Schiffrin, em dezembro passado, passou em branco na imprensa portuguesa. Durante trinta anos, Schiffrin foi o editor chefe da Pantheon Books, responsável pela publicação de autores como Foucault, Chomsky, Edward Said, entre tantos outros. Refugiado de guerra - o seu pai, Jacques Schiffrin, foi editor da Pléiade até aos saneamentos anti-semitas impostos pelo regime de Vichy - impulsionou, em 1968, o "Writers and Editors War Tax Protest", que defendia o não pagamento de impostos contra a guerra do Vietname.

Portugal, uma sociedade de classes !


Sobre várias perspetivas, "Portugal, uma sociedade de classes", convoca-nos para um debate imprescindível. Durante muito tempo, principalmente a partir dos anos 90, o debate em torno das classes sociais quase desapareceu do debate sociológico. Apesar do enorme arsenal teórico sobre as classes sociais que Renato Miguel do Carmo procura mapear, a partir dos anos 90 desenvolveu-se uma hegemonia intelectual que prematuramente anunciou, de forma mais ou menos direta, a perca de relevância das classes sociais como objetos particularmente importantes para pensar a sociedade contemporânea.A pertinência deste livro começa nesse postulado: é que a crise financeira de 2008 e os processos sociais e económicos que desde essa altura temos vivido mostram que as classes sociais não só não desapareceram, como se têm polarizado.


05 fevereiro 2014

Aborto ou a vingança da direita conservadora

O Partido Popular, que governa o Estado Espanhol com maioria, aproveita para, além da austeridade, fazer um conjunto de reformas atentatórias dos direitos e liberdades civis. Querem empobrecer o país, não só no bolso, mas também na cultura e opções de vida.

Uma das últimas reformas é sobre a lei do aborto por mãos do ministro Gallardón. Quando lhe perguntaram porquê disse "Era un compromiso del programa electoral". Deve ser o único que cumprem. E quando olha para os protestos de milhares de pessoas nas ruas e em muitos países contra esta reforma diz "Tenéis mi compromiso personal que no habrá ni un grito ni ningún insulto que a este ministro le vaya a hacer abdicar del compromiso de cumplir el programa de regular los derechos de las mujeres y del concebido".

Como a praxe se descreve a si mesma

O debate nacional sobre a praxe tem trazido a público uma questão fundamental: é possível haver praxe, tal como é descrita pelas próprios, sem abuso de poder e excessos? O chorrilho de vídeos, histórias, casos graves e até alguns casos de morte tem sido secundarizados por quem defende a praxe de hoje como processo de integração, dizendo que tal não é praxe.
Acredito que ninguém no seu perfeito no juízo, mesmo fazendo parte duma simulação, ou jogo, não pode desejar isso a não ser que tenha um grave distúrbio.
Mas isso não afasta algumas das questões principais. Por exemplo, quem tem responsabilidade sobre os actos da praxe? O argumento de que o aderir ou não aderir é um acto de liberdade, o que é questionável, que diz sobre a responsabilidade de quem "praxa", em todo o seu colectivo, quando acontece algo grave, tanto internamente no seu estabelecimento de ensino, como em acção judicial?

04 fevereiro 2014

Vende-se

A questão da venda dos quadros de Miró é ilustrativa do que nos está a acontecer enquanto país. Em primeiro lugar, parece uma questão de mera contabilidade nacional: reduzir os prejuízos que o caso BPN causou ao erário público. De acordo com o Secretário de Estado da Cultura a lógica é cristalina. Uma vez que há um buraco de biliões de euros, não lhe interessa o montante que a venda dos quadros representa, apenas o princípio (Público).

António Cândido e o Brasil de ontem.

No Brasil, a imprensa económica vibra perante a possibilidade da economia tupiniquim vir a ultrapassar a da Grã-Bretanha durante a próxima década, consolidando-se como a quinta maior do planeta. Entretanto, em meio a uma crise governamental, Dilma Rousseff enfrenta as explosões de uma crise urbana em gestação. Depois das mobilizações de junho, contra o aumento do preço dos transportes públicos, os "rolezinhos" dos jovens da periferia tomam os centros comerciais, numa exigência da promessa de cidade criada em tempos pelo PT. Nesta voragem urbana do novo Brasil, há muito de passado, das contradições e insuficiências legadas pela história. Esta aula do António Cândido não explica estas novas realidades, mas ajuda a perceber um pouco do seu começo.  

03 fevereiro 2014

A história da crise em taxas de juro


 Um amigo chamou a minha atenção para esta história da crise em taxas de juro (gráfico da Reuters). O que nos conta é evidente:

1) Houve um período de confiança e de convergência destas taxas de juro (títulos de dívida pública a 10 anos) após a criação do euro.

2) Com a crise do subprime, a falência do Lehman Brothers e a recessão de 2008, essa convergência deu lugar à divergência e as economias mais frágeis da zona euro ficaram sob intenso ataque.

02 fevereiro 2014

As perdas dos pensionistas em contas certas

Vitor Junqueira, no Buracos na Estrada, apresenta as contas rigorosas do que perderam os pensionistas e beneficiários do CSI durante os anos da troika: entre 9,5% e 21%. No caso dos mais pobres, que recebem o complemento solidário, a perda vai pelos 1537 euros. Vale a pena ler, para saber.