28 novembro 2014

Hands Up! Don't Shoot! Ferguson e Racismo de Estado


A cidade de Ferguson no Missouri (EUA) está a ferro e fogo desde que na passada segunda-feira se conheceu a decisão de não acusar o polícia que em agosto disparou seis tiros e matou Michael Brown, um jovem adolescente negro.

O Procurador de St. Louis disse que o júri não tinha encontrado “uma causa provável para apresentar qualquer acusação ao agente Wilson”, mas há uma semana que o governador do Estado enviou tropas para o local com medo dos motins. Ou seja, desde há uma semana que se sabia que o agente Wilson ia ser ilibado.

Desde o início da semana que a pequena cidade de Ferguson, maioritariamente negra e com uma estrutura de poder dominada por brancos, está a ferro e fogo, tendo já sido detidas dezenas de pessoas. Mas os protestos expandiram-se para várias outras cidades dos Estados Unidos, porque a violência policial e a discriminação não são exclusivos daquele local. Na verdade, o racismo de Estado está instalado nos Estados Unidos da América.

Os manifestantes do Ferguson Action têm 6 simples reivindicações que são da mais elementar justiça:

26 novembro 2014

Os Call Centers e a instável substância do tempo



Há uma pergunta que me tem perseguido incessantemente e para a qual nunca consegui dar uma resposta convincente: por que razão aos 16 anos gostei tanto de trabalhar no McDonalds, quando recebia a miserável quantia de 2,55 euros à hora e não tinha qualquer estabilidade de horários? Embora tenha estudado um contexto organizacional diferente, é também sobre esses processos que fala João Carlos Louçã no seu livro “Call Centers – Trabalho, Domesticação e Resistências” (Deriva, 2013). Nele encontramos uma análise cuidada sobre os modernos processos de exploração, os dispositivos mais subtis e eficazes de produção de consentimento e as formas de resistência que, num contexto tão desfavorável, ainda assim se fazem sentir.  

João Carlos Louçã mergulha nas vidas de 19 trabalhadores/as de várias idades, experiências profissionais, origens familiares, habilitações, tipos de contrato e funções organizacionais. Não ambicionando uma caracterização extensiva, o livro permite um olhar intensivo sobre as dinâmicas do trabalho, da sua organização e das identidades e resistências que nele emergem. Nenhum outro estudo em Portugal chegou tão longe na visibilização dos mundos ocultos dos Call Centers a partir das histórias dos seus protagonistas. 

Estes espaços representam uma organização do trabalho onde a precariedade é o sufoco de quem “de contrato em contrato” adia permanentemente a sua vida. Neles “os momentos de renovação de contrato são momentos de stress e dúvida para muitos trabalhadores/as (…) as pessoas sentem-se invariavelmente à disposição das flutuações da necessidade de mão-de-obra, da arbitrariedade do mercado de trabalho, da subjetividade dos critérios de avaliação do seu desempenho” (pp.77). Esta arbitrariedade é a marca de todo o trabalho estruturalmente organizado em processos de avaliações que constituem verdadeiros dispositivos de poder em que quem trabalha é a parte mais desprotegida.

Recensão publicada na Revista Vírus