10 julho 2015

As fabulosas aventuras de Nuno Melo entre os 45 jardineiros gregos



Ainda não conhecemos a sentença final, dramaticamente negociada em Bruxelas, nem que consequências o acordo provocará em Atenas. Mas a vertiginosa crise grega expôs, como nunca, as contradições de uma União Europeia em decomposição democrática. Os sinais estão por toda a parte. 

Qualquer vitória à esquerda aumentará a chantagem sobre os povos. O NÃO coletivo grego fez desmoronar toda a estratégia seguida pelos tecnocratas europeus, assente na desqualificação sistemática do SYRIZA. Essa unanimidade violenta, sustentada pelos socialistas europeus e pela direita comandada por Merkel, produziu durante semanas uma narrativa poderosa da crise grega. Tivemos de tudo. Da versão benevolente, "eles não sabem o que estão a votar", até à última tentativa de recompor o campo austeritário grego, com o antigo primeiro-ministro Kostas Karamanlis os outros dirigentes a ressurgirem depois de anos em silêncio. E quantos não assimilaram, sem protesto, a etiqueta jornalística "o governo do Syriza" sem estranhar que nunca, por uma vez, se falasse no "governo da CDU"? Mas eis que no fim, a derrota.

O mandato popular do NÃO, que tornou Tsipras o líder europeu mais legitimado da actualidade, enfraqueceu consideravelmente a possibilidade do ataque particularizado. Desse saldo, resta o ataque psicológico sobre os gregos, um ataque ao país e ao seu povo como um todo. Dois dias depois do referendo, voltou a circular em força uma notícia do sensacionalista "El Mundo", que cita exemplos absurdos do clientelismo grego. Em Espanha, uma publicação com estes dados atingiu mais de 50 mil partilhas em menos de três dias.  Mas o mais significativo é esta notícia ter sido publicada em 2011, sem qualquer referência a factos ou fontes reconhecidas. Tornou-se, desde então, no fundo de emergência mediática da direita aflita. Em portugal, o primeiro a reproduzi-la foi Henrique Raposo, num tom copiado até à exaustão por vários comentadores de serviço.