Ainda não conhecemos a sentença final, dramaticamente negociada em Bruxelas, nem que consequências o acordo provocará em Atenas. Mas a vertiginosa crise grega expôs, como nunca, as contradições de uma União Europeia em decomposição democrática. Os sinais estão por toda a parte.
O mandato popular do NÃO, que tornou Tsipras o líder europeu mais legitimado da actualidade, enfraqueceu consideravelmente a possibilidade do ataque particularizado. Desse saldo, resta o ataque psicológico sobre os gregos, um ataque ao país e ao seu povo como um todo. Dois dias depois do referendo, voltou a circular em força uma notícia do sensacionalista "El Mundo", que cita exemplos absurdos do clientelismo grego. Em Espanha, uma publicação com estes dados atingiu mais de 50 mil partilhas em menos de três dias. Mas o mais significativo é esta notícia ter sido publicada em 2011, sem qualquer referência a factos ou fontes reconhecidas. Tornou-se, desde então, no fundo de emergência mediática da direita aflita. Em portugal, o primeiro a reproduzi-la foi Henrique Raposo, num tom copiado até à exaustão por vários comentadores de serviço.
A novidade, depois do OXI, é serem os próprios governos europeus a divulgar publicamente estas mentiras. E temos claro, o nosso exemplo nacional: o CDS escolheu o seu dirigente mais primitivo, Nuno Melo, que escreveu no JN sobre o acordo de 2012, "As contrapartidas seriam reformas estruturais, num país que espantava o Mundo por casos insólitos, com exemplos em salários pagos a 45 jardineiros pela manutenção de quatro árvores à porta de um hospital", tal e qual como no artigo do "el mundo". Interessa pouco que na verdade o Hospital Evangelismos, em Atenas, tenha mais de 20 mil metros quadrados de jardim, ou saber qual a fonte oficial que dá conta dos 45 jardineiros.
Depois da vitória do Syriza, resta derrotar os gregos. Fim.
Sem comentários:
Enviar um comentário