A Raquel Varela tem contribuído, nos últimos anos, para a desconstrução de alguns mitos austeritários, batendo-se por causas importantes, como a Ciência. É, por isso, com interesse que leio a sua análise sobre as causas da baixa intensidade com que se desenvolve o confronto político em Portugal. Segundo a autora, como se pode ler no excerto acima, uma das causas para essa apatia reside na "geração de 20 ou 30 anos", que sofrendo os suplícios da emigração forçada não tem "uma palavra a dizer sobre a política em Portugal". A isso somar-se-ia a condição de desligamento do movimento sindical e partidário, revelando um "confrangedor analfabetismo político de toda uma geração".
Questiono-me, à partida, se a generalização de uma população sob o escopo do factor etário é, de facto, a melhor via para uma análise da mobilização política em Portugal. Há um debate sociológico que tratou precisamente desta questão. Pierre Bourdieu concedeu, em 1978, uma entrevista transformada em ensaio intitulado "A juventude é apenas uma palavra". Na sua leitura, Bourdieu avançava três teses: (i) a fronteira entre a juventude e a velhice é um objeto de disputa em todas as sociedades, uma vez que essas condições sempre foram acompanhadas de um status diferenciado e de uma desigualdade no acesso a determinados tipos de capital; (ii) não existe apenas "uma juventude", na generalização abusiva do termo. Em todos os domínios da existência - moradia, trabalho, relação familiar, práticas sociais, pertença de classe - as diferenças que atravessam os indivíduos da mesma faixa etária são imensas. "Dito de outra maneira, é por um formidável abuso de linguagem que se pode subsumir, no mesmo conceito, universos sociais que praticamente não possuem nada em comum."; (iii) numa sociedade de classes, as máquinas de reprodução social, como a escola e o trabalho, importam para a compreensão da selectividade social que condiciona indivíduos da mesma geração.
Questiono-me, à partida, se a generalização de uma população sob o escopo do factor etário é, de facto, a melhor via para uma análise da mobilização política em Portugal. Há um debate sociológico que tratou precisamente desta questão. Pierre Bourdieu concedeu, em 1978, uma entrevista transformada em ensaio intitulado "A juventude é apenas uma palavra". Na sua leitura, Bourdieu avançava três teses: (i) a fronteira entre a juventude e a velhice é um objeto de disputa em todas as sociedades, uma vez que essas condições sempre foram acompanhadas de um status diferenciado e de uma desigualdade no acesso a determinados tipos de capital; (ii) não existe apenas "uma juventude", na generalização abusiva do termo. Em todos os domínios da existência - moradia, trabalho, relação familiar, práticas sociais, pertença de classe - as diferenças que atravessam os indivíduos da mesma faixa etária são imensas. "Dito de outra maneira, é por um formidável abuso de linguagem que se pode subsumir, no mesmo conceito, universos sociais que praticamente não possuem nada em comum."; (iii) numa sociedade de classes, as máquinas de reprodução social, como a escola e o trabalho, importam para a compreensão da selectividade social que condiciona indivíduos da mesma geração.