28 maio 2015

Combate à Precariedade: Mariana Mortágua e José Soeiro arrasam Pedro Mota Soares

"Queremos saber quanto é que o governo gasta a pagar estágios à Sonae, à EDP, à PT? Quanto é que o governo gasta a pagar estágios a pessoas que trabalham e desempenha funções permanentes e necessárias na função pública?" - Mariana Mórtagua


"Portugal transformou-se num país de delinquência laboral em escala alargada" José Soeiro

24 maio 2015

Da dignidade das trabalhadoras domésticas



Isidra terá cinquenta, talvez alguns anos mais, marcados no rosto de uma vida que foi só trabalho, desde que se entende por gente, começando pelo auxílio à mãe e aos seus sete irmãos. As lides domésticas fora de casa vieram mais tarde, depois de ter perdido, já na casa dos trinta, o emprego numa fábrica de estofos. Não guarda saudades desse tempo, pois eram horas que nunca mais acabavam, e ao menos agora sabe quando entra e pode ser intransigente na hora da saída. Um minuto a mais e a viagem que repete há duas décadas, entre a Foz do Porto e a estação de São Bento, transforma-se numa ansiedade fria, pois arrisca-se a perder o comboio das 18:35 que a transporta diariamente até Penafiel, no interior destas terras.

Durante a viagem troca impressões com uma colega de labuta, de como hoje deixou o jantar da patroa pronto a aquecer e ainda conseguiu passar na loja para comprar o vestido da sua filha. Com a saída da colega, Isidra continua com uma vontade transbordante de conversar, dessa generosidade fiquei a saber tudo isto e que a viagem dela ainda continuaria, pois o marido aguardava na estação final para a levar até Castelões, onde mora a "um ror de anos". Quando lhe pergunto pelas condições no trabalho, Isidra, com as mãos inquietas, assente que é o que há. Que já trabalhou em casas piores, que esta patroa nunca lhe faltou. Na timidez de lhe perguntar quanto ganha, questionei sobre contrato de trabalho, para logo ver a mão de Isidra mandar-me passear, alargando um sorriso como resposta. Não insisti. As explicações de como a filha está a estudar no Porto foram interrompidas pela minha saída.

A Isidra é uma das quarenta mil trabalhadoras domésticas que o Sindicato dos Trabalhadores de Serviços de Portaria,Vigilância,Limpezas,Domésticas e Actividades Diversas (STAD) estima haver em Portugal. A grande maioria trabalha na informalidade, sem contrato de trabalho e recebendo os parcos salários em espécie. A geografia social destes laços estende-se pelas nossas cidades, na invisibilidade destas conversas e na permanência deste atraso, que é pagar pouco a quem muito faz.